segunda-feira, 11 de maio de 2015

121 - NOSSOS NETOS: A JÚLIA

121 - NOSSOS NETOS: A JÚLIA

Quando você nasceu, Júlia, uma colega me disse: "Uma criança em casa é sempre bom; volta a ternura, o afeto." E foi assim mesmo, Júlia. Uma casa só de adultos não tem a mesma alegria, a mesma leveza, o mesmo barulho. Pode até se tornar um silêncio sepulcral.

A criança tem graça, estilo, sorrisos, falas engraçadas, gestos infantis deslumbrantes. Vou citar aqui algumas das suas:

A primeira palavra que você pronunciou  aqui em casa e que conseguimos alcançar o sentido, foi pedindo água para o vovô; ele se lembra com carinho disto. E dizia a todo mundo que você já sabia falar, mas, na verdade, não era bem uma fala,  apenas um jeito de se comunicar quando estava com sede.

Um dia, você ainda nem falava direito, lá fora, na rua,  ele lhe mostrou a lua e disse: "Olha lá, Júlia, a lua!" E você na mesma hora: "Não, vovô, é meia!" Isto porque a fase da lua era exatamente quarto-crescente. Então não era uma lua inteira: era apenas meia-lua!

Certa vez,  você estava sozinha com ele e pediu que lesse para você uma história; e ele, com preguiça, respondeu: "Júlia, eu não sei ler!" E você: "Claro, vovô! Você não vai pra escola!"

Histórias...Você adorava isto! O primeiro livrinho quem lhe deu foi o Tio Júnior, por quem você tinha um carinho imenso. Chamava-se: A princesa e o Sapo. Nossa! Quantas vezes será que ele foi lido pra você e por você... Lembra-se?

Quantas histórias... quantos filminhos infantis... Matilda, Thainá, Sítio do Picapau Amarelo, Historinhas diversas, mil vezes repetidas, milhões de vezes dramatizadas, saboreadas, as lágrimas... os sorrisos... as gargalhadas...  Lembra da Narizinho e a Emília que caía da "buticabeira"?... Quantas vezes fizemos isto!...


Você vivia recriminando o vovô que tinha passarinhos presos. Porque não se pode prender passarinhos, têm que ficar soltos na natureza, não se pode maltratar os animais... Um dia, ao voltarmos para casa, você viu um filhotinho, quietinho no chão. Pediu, parei o carro e você o trouxe. E quando aqui chegou, pediu ao vovô uma gaiola para prendê-lo. O vovô então soltou esta: "Uai, Júlia, não era proibido prender passarinhos?" E você, na mesma hora: "Era!"


Quando você certa vez, pediu dinheiro pra sua avó materna e ela lhe falou pra pedir ao vovô Waldívio, que foi que você lhe disse? "Ah, vovó, ele não tem dinheiro. Ele nem trabalha!" Você via todos nós, saindo pra trabalhar e não podia compreender, certamente, porque ele só ficava em casa. Explicar pra você que ele já estava aposentado?!... 


Assim era você, Juju, presença de espírito, esperteza, inteligência aguçada. Ah, como todos temos saudades de sua infância conosco!


Uma tarde, eu estava em uma reunião na escola, vovô aqui sozinho, alguém liga: "Olha, Sr. Waldívio, a Júlia está aqui até agora, ninguém veio buscá-la hoje, todos  os alunos já foram embora, ela está tristinha aqui, chorando!" Aí, quem chorou foi o Vovô ao pensar na triste cena; já começava a escurecer... Combinaram o que fazer e a pessoa gentilmente a trouxe para ele. Quando o viu, pulou em seus braços, abraçou-o com força, como se mendigasse proteção.


Ah, Júlia, você nos trouxe muitas alegrias, você soube preencher o nosso tempo, com suas gracinhas... Lembrar de tudo isto, nos faz um bem imenso. As escolas por onde passou, desde bebê, nossas viagens, as aulas de piano, nossas idas à igreja, coroinha, leiturista, comentarista... E aquele poema imenso que você decorou em três dias e o declamou com muita desenvoltura e graça por várias vezes na igreja e na minha escola? Até hoje as pessoas falam disto...


Obrigada, Juju, obrigada por você existir e colorir com sua presença os nossos dias. Muito obrigada! 

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