domingo, 31 de maio de 2020

444 - Lá se foi...

 444  -  Lá se foi...

É... Lá se foi o mês de maio! Se passou rápido, ou se demorou a passar, não sei definir.  Todo mundo fica meio perdido, numa situação atípica assim. Quarentena deveria ser quarenta dias. Mas já temos mais de sessenta, neste isolamento chamado quarentena. Pensei que poderíamos considerar a etimologia da palavra, mas pude constatar com tristeza, que não é bem assim. 

Amanhã, vou desfazer um altarzinho que alguém resolveu pedir para fazer, com o cumprimento de atividades, durante os trinta e um dias do mês de maio. Missão cumprida! Considerando este mês, dedicado a Maria, o altar montado nas nossas casas, foi para Ela. E foi muito bom, porque, com as Igrejas fechadas, a gente tinha, além das celebrações pela televisão, uma missão a mais, com tais atividades. Terminou hoje. Veremos o que inventarão agora, além da trezena a Santo Antônio, que faremos a partir de amanhã. 

E assim, vamos levando os dias, até ver como é que ficam as coisas, após este período de incertezas em que estamos mergulhados.

Sobrevivemos até agora. Mas muitos já se foram, levados por esta pandemia. E não só pelo vírus, que está devastando todo o mundo, mas por outras questões também, a maioria advinda de consequências do que ele mesmo está causando. É um período bem difícil, este que estamos atravessando. Com certeza, não é o primeiro da História da Humanidade; porém é o nosso tempo e por isto, precisamos aprender a conviver com ele.

E quando a gente pensa que já está melhorando, lá vem o noticiário, falando o que não gostaríamos de ouvir. Outros países sofreram com o corona, que é um vírus bem cruel, mas já estão voltando ao normal. Por aqui, a crise ainda é grande.  Na sexta-feira, foi falado em reabrir as Igrejas, com restrições; no sábado, disseram que ainda não é hora. Tudo bem. As autoridades são prudentes e devemos simplesmente obedecer. É o melhor a se fazer.

E começamos amanhã um novo mês! Junho chega pra nós ainda com Igrejas e escolas fechadas, sem contar lojas e outros tantos locais. E seguimos em frente; mas eu dizia hoje para uma de minhas irmãs: é como estar numa esteira, correndo, correndo, correndo... sem sair do lugar! 

O que nós, cristãos, fazemos desde o início, é estar sempre em Oração, pedindo a Deus que nos abençoe a todos, que tenha misericórdia das almas dos que partiram e console os que aqui ficaram, por enquanto. E nos ajude a levar a vida da melhor forma, tentando cumprir Seus mandamentos, até o momento final, determinado por Ele.

(Celina - 31/05/2020)

443 - Sobrevivência!

443  -  Sobrevivência!

Varrendo lá fora, vi um dos filhotinhos no chão. Empenadinho já, mas todo encolhidinho, coitado! Tremendo de frio. Eu deveria pegá-lo, colocá-lo novamente no ninho. Mas tive receio. Sou meio desastrada com essas coisas e temia que o ninho caísse com os dois. 

Nós os acompanhávamos desde os ovinhos, naquele ninho tão frágil, mal feito, apenas alguns raminhos indecisos. Meu esposo o amarrou, quando vimos os filhotinhos: "Quando crescerem um pouquinho, vão cair com o ninho e tudo. Estas pombinhas são muito relaxadas!"

Cresceram sim. E a gente acompanhando. Um ninho simplesinho, equilibrando-se em duas  barrinhas de ferro, que antes serviam de sustentação a um sombrite  que cobria o orquidário. Tantas árvores por ali, ramos fortes, folhagens espessas e deram preferência para aquele local.  Se bem que o ninho estava debaixo de uma enorme folha de mamoeiro, que o livrava do sol forte e, parece, até da chuva. 

Bem. Mas agora, um dos filhotinhos estava ali, caído no chão frio. Colocá-lo lá de novo, arriscando-se com a queda do ninho e, consequentemente, dos dois, ou esperar acordar quem sabe fazê-lo com segurança? Na dúvida, optei pela segunda. 

E esperei... E esperei! Olhava para ele com dó e com raiva de uns pais sem compromisso, ou preguiçosos, que deixam os filhos assim, sem segurança.

Meu esposo sempre mexeu com passarinhos e entende bem disto. Quando ele se levantou, falei com alívio: Estava esperando você para colocar no ninho um dos filhotinhos que caiu no chão. Corremos para lá. E ele, desanimado: "Ah! Já morreu. Por que você não o colocou lá de volta?"

Fiquei triste, mas ele compreendeu minha explicação: deixar um morrer ou arriscar matar os dois? Mas não dei muito tempo pra me chamar de covarde, não: toquei no passarinho e as asinhas se mexeram: Tá vivo! Põe depressa lá! E fiquei vigiando. A mãe retornou e  se aninhou sobre eles. E eu rezando pra que ele não morresse por minha culpa. 

À noite, pareceu-me sentir cheiro de alguma coisa queimando e vim à cozinha ver se meu esposo  deixara algo ligado no fogão, mas vi que não.  Só que, esquecendo-me de agasalhar, voltei para a cama com um tremendo frio. Aí fico pensando no filhotinho: teria ele sobrevivido? Teria se aquecido após tanto frio?

E pior, comecei a me lembrar dos moradores de rua. Ai, meu Deus! E foi para rezar o resto da noite, por aqueles que estavam sentindo mais frio que eu. Quem disse que consegui dormir de novo?

No outro dia, corro para ver o ninho. A mãe estava lá sobre eles. Graças a Deus! Devem estar bem quentinhos! Mas não sei como uns raminhos daqueles podem suportar o peso dos três. Quando ela saiu, fui lá. Afastei um pouco a folha do mamoeiro e um solzinho bem gostoso, os aqueceu. Lá estavam os dois bem juntinhos. Não dava pra saber qual era o fujão; os dois estavam igualmente bem. Fiquei feliz. E pedi a Deus que as minhas preces tenham tido validade também para os humanos, aquecendo-os nas noites frias que tanto nos incomodam.

 Isto foi há uns cinco dias. Ali estão eles, já com as cabecinhas de fora, felizes, olhando pra   mim, com carinha de safados. E nem sabem que me fizeram perder o sono... É assim!

Daqui a poucos dias, estarão voando por aí, pisando nas minhas plantinhas, atrapalhando os meus canteiros, à procura de insetos. E depois farão outros ninhos. Espero que os façam melhores para que eu não passe por uma experiência ruim assim de novo, que me levou mais da metade do sono daquela noite. Vão se somar ao time enorme daqueles que já se acham no direito de atrapalhar meu canteirinho de rúcula! Fazer o quê, não é? Todos precisam se alimentar...
(Celina  -  31/05/2020)