domingo, 6 de setembro de 2020

489 - Alegria e Paz!

 489  -  Alegria e Paz!

Quando se é pequeno, ou quando se considera assim, é fácil ser alegre e encontrar a paz de espírito. Muito fácil! Porque saber-se pequeno e reconhecer-se como tal, é contentar-se com o que se é, com o que se tem, não importa como, nem quanto: é simplesmente aceitação. É a virtude dos simples. Alegrar-se no sentido bíblico da palavra, e viver em paz!

Hoje, após longos seis meses, voltei à missa na catedral de Santo Antônio. Lista de presença, higienização, distanciamento, máscaras, tapete com água sanitária, borrifação antes da comunhão. Fiquei num banco de três metros, sozinha, porque optaram por colocar dois fiéis nas pontas de um banco e um apenas no meio do seguinte, alternando-se desta forma; distanciamento enorme e garantido.

Vai ser bem difícil daqui a alguns anos, alguém imaginar a situação que estamos enfrentando agora. Não sei se pela emoção do retorno naquela igreja, achei fantástica a homilia do presidente da celebração. Ele falou de um modo de vida condizente com o evangelho. E disse que "Deus perdoa sempre; o homem, de vez em quando; a natureza nunca perdoa!"  Falou dos mandamentos e informou que nunca se viu tanta separação de casais como agora, durante a pandemia. Que pena! E arrematou, gracejando, que separar-se de uma pessoa e unir-se a outra, de nada vai adiantar; é simplesmente, troca de defeitos; pois defeitos, todos os temos!

Por isto, deixou como mensagem, duas palavras: compreender e perdoar: procurar sempre compreender o outro e perdoá-lo, para que possamos conhecer a verdadeira alegria que nos traz a paz.

No próximo domingo, a celebração deste mesmo horário será na igrejinha da Piedade, onde tive a felicidade de comemorar os meus setenta anos, dia sublime de eterna gratidão, pois todos os meus irmãos estavam presentes, naquela quarta-feira abençoada! Surpresa imensa que minha amada filha me ofertou! Vou marcar logo no início. Não quero perder a oportunidade de lembrar-me daquela linda celebração, com irmãos, filhos e netos presentes. E assim continuamos  em oração. Graças a Deus, já podemos estar em nossas igrejas!

(Celina  -  06/09/2020)

488 - A Troca

  488  -  A Troca

Penso nisto hoje, quando levanto, bem cedinho e não ouço o barulhinho tão gostoso da água da fonte. Vou direto à cozinha e trago um copo d'água. Mas  o barulho da queda não vem. Pego então, distraidamente, outro copo; e nada acontece! Só então percebi que ela precisava de uma escovada. Levei o motorzinho à pia e passei delicadamente uma escovinha nas ranhuras. Volto com ela e a água cai com força, em grande ruído. E precisei tirar quase um copo da água que eu havia colocado.

Toda fonte precisa de algo que a mantenha funcionando. Portanto, sempre é uma troca: é preciso dar para receber. Uma árvore nos fornece tanta coisa... Mas se lhe for negado o alimento de que ela necessita, como poderá continuar produzindo? Seja no reino animal ou vegetal, tudo é uma questão de troca. Sem troca, nada feito!

Antigamente, as pessoas trocavam aquilo que produziam: quem cultivava a mandioca, trocava com aquele que plantava o feijão. E nesse intercâmbio, iam suprindo as suas necessidades básicas. Depois inventaram a moeda de troca e dever-se-ia dizer que a coisa descomplicaria, mas não foi exatamente assim. Porque alguns mais gananciosos começaram a guardar muitas dessas moedas, que deveriam continuar circulando. E começaram a desvalorizar aquele que produzia para que todos pudessem comer. Foi assim então que o dinheiro - que ninguém come, nem veste e nem calça - começou a valer mais que os produtos do trabalho de tanta gente. E como "o saco da ambição, não enche nunca" os que retinham consigo o dinheiro, começaram a desejá-lo cada vez mais, ficando os ricos sempre mais ricos, e os pobres na labuta diária, oferecendo sua força de trabalho, àqueles que nada faziam, a não ser ajuntar tesouros.

E é por isto que hoje é tão gritante a distância entre os donos do capital e os que estão a seu serviço. Não é fácil entender esta dinâmica se, no final desta vida, nada se leva daqui, ficando para outros, tudo aquilo que foi armazenado, muitas vezes, covardemente, ou, ainda pior: ilicitamente. 

Construir uma vida confortável para si e sua família, com seu trabalho, é direito de todos. Mas aproveitar-se do suor alheio, que vai minando continuamente,  sua energia produtiva, por excesso de esforço, é profundamente injusto. São Paulo Apóstolo escreve a seus discípulos: "Quem não quer trabalhar, também não deve comer!" Seria muito bom, o homem pensar seriamente nisto!

(Celina  -  06/09/2020)

487 - A Lagoa Paulino

 487  -  A Lagoa Paulino

(Esta crônica foi escrita em 10/10/97)

Paro. Hoje faço uma coisa diferente: assento-me neste banco - e observo... Eu nunca havia feito isto, sabia? Hoje quero fazê-lo; e faço-o agora! Como é lindo tudo isto! Estas sombras, estes pássaros, estas árvores, palmeiras enormes...

Palmeiras! Esta joga suas folhas para baixo, imensos braços a nos envolverem num gigantesco  abraço. Aquela, imponente, lança-os para o alto, num louvor ao Criador, agradecendo certamente, por tê-la feito assim, esbelta, tão majestosa! 

Levanto-me. Preciso caminhar. Preciso sentir cada sombra, cada farfalhar, cada verde plantado em volta desta lagoa! Uma pombinha branca caminha à minha frente; passinhos miúdos, olha para a direita, olha para a esquerda, olha para o chão... Caminha devagar, movendo com graça o seu bonito corpinho. E não teme a mim. Não voa quando passo por ela, não se assusta, não se exalta... Cumprimenta-me apenas com o olhar -  e continua, graciosa e feliz. Divinamente bela!

Continuo devagar também. Hoje, pela primeira vez, não quero ter pressa. Uma colega minha diz  que tem por hábito, amassar coquinhos com o calcanhar, procurando-os pelo chão. É gostoso mesmo, sabia? Dá um estalinho bom! Experimente!... Porém hoje parece que todos os coquinhos já foram amassados. Creio que ela já deve ter passado por aqui. Não acho coquinhos para eu amassar; uma pena!

Mas veja! Que tapete dourado a natureza preparou aqui, para que pudéssemos passar felizes, em grande estilo! Maravilhosas estas árvores, cobertas de ouro, que nos presenteiam com esta beleza. Continuo a caminhar. É bonito demais tudo isto! 

Por que será que a gente olha e nem sempre vê, a gente ouve e nem sempre escuta, de verdade? Tanta coisa bonita e a gente nem percebe. Passo por aqui todos os dias. Mas passo correndo, indo para o trabalho; meio dia, sol a pino, um calor incrível! Caminho rápido, apenas me detendo um pouco nas sombras; é gostoso apertar o passo, quase correr, para chegar à sombra seguinte, sentindo no corpo aquele ventinho bom...

Mas hoje não quero correr. E prometo que de hoje em diante, vou ficar mais atenta, deliciando cada palmo deste magnífico chão. 

Estão recuperando a lagoa. Esvaziaram-na. E estão limpando tudo. Dizem que o projeto é arrojado, e que vai ficar tudo muito lindo! Observo: vejo uma vasilhinha de plástico rosa, de um rosa que seria maravilhoso se não estivesse ali, sujando a lagoa; mais adiante, uma colherzinha vermelha, também de plástico; e lá adiante, uma latinha amassada; e copos, e pedaços de papel por todo lado; uma lata de óleo, uma garrafa quebrada, uma caixa de papelão e até um velho pneu de bicicleta...

Estão tirando toda a sujeira...  E depois de tudo concluído, será que vão sujar de novo? Por favor, não façam assim, caros cidadãos! É tão lindo, tudo isto! E há tantas lixeiras em volta da lagoa... Vamos procurar preservar tudo aquilo que a natureza nos deu de sobra! Toda a população agradece, com certeza! É bom para você; é bom para todos! Colaboremos!

(Celina  -  05/09/2020)