221 - IRMÃOS
Irmãos de sangue,
irmãos na fé, irmãos na vizinhança, irmãos na comunidade, irmãos na
humanidade... e o ciclo vai se ampliando até chegar ao "irmãos por parte
de Adão e Eva" como eu ouvia, quando criança.
Mas não é dessa
irmandade toda que quero falar hoje, e sim, dos irmãos de sangue, filhos do
mesmo pai e da mesma mãe, criados ali em família, juntinhos, nas brincadeiras,
nos estudos, nos trabalhos, nas dificuldades, dividindo problemas,
multiplicando alegrias, partilhando vidas...
Que pena que o
sentido de família vem se transformando tanto ao longo dos anos! Na minha
infância - que o confirmem meus irmãos - não havia muito essa amplitude de
laços familiares, ou, pelo menos, não tínhamos conhecimento disto. Conhecíamos
famílias enormes, visitávamos suas casas, participávamos de momentos de oração,
rezávamos o terço, cantávamos ladainhas - até em latim, "ora pro
nobis" - era um contato constante entre vizinhos, parentes, amigos... Mas
quando a noite chegava, lá estávamos em nossa casa, cada família em seu lar - pai,
mãe e filhos.
Irmãos de sangue,
criados juntos, ali, nas alegrias e dificuldades do cotidiano... Nossos pais
criaram onze filhos! Como?! Providência Divina! E aí, quando a gente está no
segundo, ou no terceiro, os próprios médicos - porque hoje todo mundo tem que
fazer o pré-natal - eles próprios já começam: "Vamos fazer a laqueadura? - Ou
vão optar pela vasectomia?..." E aí todos vamos colocando em nossas
cabeças, que não se pode ter muitos filhos, como dizia minha mãe, "todos
que Deus mandar"; e aí as famílias, cada vez mais, vão se afunilando e,
parece, quanto menos filhos, mais problemas, criam-se males diferentes,
fantasiam-se as vidas, afastam-se de Deus, porque parece que não se necessita
mais dEle, tem-se tempo e dinheiro para solução dos problemas e se lembra muito
pouco de pedir a Sua ajuda!
Irmãos de sangue!
Que coisa linda! Mas viajei muito no texto hoje, fui longe demais. O que eu queria
contar é simplesmente que, ao entregar ao Lucas ontem um carrinho de madeira,
uma coisinha de nada, porque sei que ele gosta muito de carrinhos e, parando
ontem, pela madrugada, na rodoviária de Três Marias, vi-o lá e pensei que talvez
fosse interessante ele brincar com um daqueles, junto com seus primos, ao
recebê-lo mostrou-se muito feliz, mas disse logo: "Vovó, e pra Gabizinha,
a senhora não trouxe nada?..." Veja o que é a irmandade! Respondi: “Calma,
Lukinha, o dela está ali: um caminhãozinho de madeira pra ela carregar a
bonequinha" (Mas eu sei que, se gostarem, serão eles mesmos que vão
brincar com os dois!)
E quando eu vou
picar pra ela um tomate, na famosa "comida japonesa" o que ela
pergunta? "E pro Lukinha, vó?”... Não é fantástico isto? “Já piquei pra ele,
Gabi. Já está comendo tudo!” E ela:
"Ah!"
É assim, eu não
digo? O Lukinha comentava, um dia desses: “Vó, o Arthur tem o Sávio, eu tenho a Gabizinha e agora a Lelê tem o
Rafael. Que bom!”
Irmãos de sangue,
não vamos abrir mão deles. Eu sempre ficava muito triste quando um aluno dizia:
"Sou filho único, tia". Parecia-me ver tristeza e um vazio em seu
olhar.
(Sete Lagoas, 12 de abril de 2016)