terça-feira, 19 de março de 2019

342 - Natimorto

342  -  Natimorto

Pensei muito nisto hoje, após postar a crônica anterior. Lembrei-me de que, quando comecei o meu trabalho voluntário no Hospital Nossa Senhora das Graças, deparei-me com uma mãe toda chorosa, porque seu filho morrera no parto, após uma gestação aparentemente normal, no tempo certo. Esperava ver a carinha do filho, amamentá-lo, apertá-lo nos braços, e, de repente, recebe a notícia de que nascera morto. 

Estava desconsolada a pobre mãe! Fiquei muito tempo com ela, choramos juntas, até que ela conseguiu se acalmar um pouco e me contou que aquela era a quarta gestação, a única que ela conseguira levar até o fim, porque nas anteriores, o aborto acontecia logo no início. " Desta vez...  pensei  que tinha dado certo!" - finalizou.

Falei ainda muitas vezes com ela pelo telefone e, recentemente, me disse que ela e o esposo agora são Ministros da Eucaristia, estão felizes, já sabem que não terão filhos, mas se conformaram com a vontade de Deus.

Há algumas semanas, uma colega minha contou-me que alguém de sua família foi para Belo Horizonte para que o parto fosse feito num hospital melhor, por médicos de renome e que o quarto do filho estava lindo, todo mobiliado para receber o herdeiro. Que aconteceu? O filho nasceu morto, decepção geral, e ainda optaram por trazer o filho para ser enterrado na sua cidade - que não é a nossa Sete Lagoas - para que os pais pudessem visitar seu túmulo sempre que quisessem chorar um pouco...

É bem triste uma história assim, não é? Mas que fazer?  Há momentos de sorrir e momentos de chorar. Todos passamos por dificuldades na vida. Porém, inconscientemente, somos levados a pensar no nosso caso: recebi meus quatro filhos, no tempo normal,  crianças lindas, perfeitas e saudáveis, graças a Deus. Neste particular, não houve para nós, motivos pra chorar, apenas alegria grande e muitas orações de agradecimento a Deus por tão belas dádivas dos céus. Sempre agradecendo: "Obrigada, Senhor!"
(Celina - 19/03/2019)

341 - ... e - A Reta Final!

341  -  ... e - A Reta Final!

Hoje - Dia de São José. Acabei de chegar da igreja e, relendo a crônica anterior, quero complementar com esta reflexão: depois da curva parabólica da vida, falar com você da "Reta Final".

Creio não ser difícil entender que é assim que as coisas acontecem. Simples assim: a gente nasce, cresce, faz algumas escolhas e vai vivendo conforme escolheu; e um dia, a cortina se fecha. É assim. Não há como fugir!  Creio que isto, todo mundo entende. Mas talvez nem todos entendam "a reta final" E é disto que quero falar hoje, precisamente hoje. Porque ontem, meu filho mais velho, que estava conosco há quinze dias, foi embora pela manhã. E assim -  como os outros filhos aqui não apareceram, nem netos,  deu um vazio no meu coração -  mais nele que na casa - nem havia pensado nisto. Então falei da descida. Mas hoje, quero falar da subida. Espero que você entenda:

Encontrávamos, todos e cada um de nós, numa redoma de vidro, bem quentinhos, no ventre de nossa mãe e aí, de repente, chega o momento de pular pra fora e viver num novo mundo. Agora, por nossa conta! Antes, através do cordão umbilical, era a nossa mamãe que se alimentava por nós. De tudo que ela escolhia para comer, um pouquinho, certamente, era separado praquele serzinho  inocente e ainda informe que carregava dentro de si. Aos poucos, ele foi tomando forma e se fortalecendo cada vez mais. Até se achar no direito de sair dali e ter vida própria. 

Nós, que aqui estamos e podemos falar disto, fomos mais felizes que alguns que não chegaram a ver a luz do dia. Sabe por quê?... Sabe por que ele não chorava, não abria os olhos, não se movia, nenhum gesto conseguia mostrar?... Sabe por que aquele serzinho recém-chegado, para o espanto de todos, conservava-se completamente inerte?... 

Pois é! Alguns vivem dias, outros, meses; outros vão mais longe. E há os que passam de um século. E nós ainda estamos por aqui. Que bom! É procurar viver da melhor forma possível!

Mas voltando às interrogações sobre o natimorto, a resposta é muito simples: ali está somente o corpo físico, lembrando que somos físico e espírito, corpo e alma. E é esta que nos anima;  do latim, anima (ânima) - alma - sem ela o corpo nada faz -  é um ser inanimado! Isto é o que chamamos de morte: ato de separar a alma do corpo. Este vai ser enterrado, ou cremado... Ela tem seu retorno para Aquele que no-la concedeu: é a reta final, o que já aconteceu com muitos dos nossos, não é mesmo?
(Celina - 19/03/19)