terça-feira, 30 de agosto de 2016

249 - PARE, POR FAVOR!

Esta é mais uma crônica publicada no jornal "Voz de Diamantina", há algum tempo:


249 - PARE, POR FAVOR!


“A viagem transcorria tranquilamente. Viajava de maneira confortável, pois a poltrona do meu lado estava vazia. Porém, daí a pouco, o ônibus pára e entra alguém que, pedindo licença, se assenta a meu lado. Acomoda-se, fecha um pouco a janela, tira do bolso um cigarro, acende-o, e logo, a fumaça da primeira baforada vem passar bem rente ao meu nariz. E aquele ar que respiro leva pela primeira vez, naquela viagem, um estranho e indesejável visitante para o interior do meu organismo.

Não sei se uma parte foi para os pulmões. Mas é certo que uma boa parcela, vai parar no meu estômago, que reage logo! Sinto arrepios, e olho contrariada, mas de soslaio, para o novo passageiro: roupas bem gastas e sujas, sapatos que jamais viram graxa, cobertos por uma poeira pálida e triste.

Fico pensativa; penso em entabular uma conversação, fazê-lo ver os efeitos destruidores do fumo em seu organismo, os efeitos negativos sobre sua saúde. Mas me contenho a tempo. Penso melhor. E rezo. Rezo e peço a Deus que tire daquela pobre criatura, esse vício horrível, que queima o seu dinheirinho, certamente, com tanta dificuldade, adquirido, e leva com ele, a sua saúde, que mais cedo ou mais tarde, se manifestará abalada, pelos efeitos da droga.

Não olho diretamente para o rapaz, para que ele não pense que a fumaça me incomoda. Afinal, são apenas alguns quilômetros. Nem sequer vejo seu rosto. Mas peço a Deus que o faça desistir de seu vício; e verá que o dinheiro que, distraidamente, se transforma em baforadas pelo ar, poderá ser-lhe muito útil para uma alimentação mais sadia, e outros desejos que talvez não esteja conseguindo realizar. 

E aqui, cabe-nos uma reflexão: Para que o cigarro?... Por que fábricas de cigarros?... (Ou serão ‘fábricas de doenças do aparelho respiratório?’...) Pensemos!”


****


Hoje, ao reler esta crônica, fico pensando: Ainda bem que a viagem já estava chegando ao fim, porque, se já não passava bem em viagens de ônibus, imagine alguém fumando do meu lado?... E ainda fecha a janela!...

Lembro-me bem desse episódio, bem antigo. Quase falo com ele, mas talvez ele considerasse  isto como uma reclamação de minha parte. Muitas vezes, é necessário fazer silêncio e aguentar firme. E foi o que eu fiz naquele momento. Graças a Deus!!!


(Sete Lagoas, 30/08/16)