432 - Pequenas Tarefas
Tenho pensado muito nisto: as minhas pequenas tarefas do cotidiano, tarefas que sempre executei, mas não com tanta precisão e tamanha dedicação e cuidado, como nos dias de hoje, com este isolamento social obrigatório, que estamos todos vivenciando.
São pequenas tarefas pelas quais, em minha casa, sempre fui responsável: algumas do tipo, levantar bem cedinho, abrir as janelas possíveis, agradecendo a Deus pelo novo dia que rompe, e, fechá-las todas, à noitinha, agradecendo ao mesmo Deus, que nos proporcionou viver, mais uma vez, aquelas horas, parecidas com tantas outras que já se foram.
Agora estou aposentada, mas fico pensando em quantas mulheres estão aprendendo ou reaprendendo a ser donas de casa, nessas mesmas tarefas de ser responsável pelos alimentos que a família vai consumir no almoço e no jantar; responsável por uma casa limpa e agradável de se estar, toda a família, durante todo o dia; de estar atendendo aos pedidos de esposo e filhos e outros familiares, que estão agora dentro de casa, sem poder sair; de cuidar das suas roupas porque não sabe quando poderá deixar esta tarefa para secretárias que sempre as fizeram; de cuidar do lanche da manhã, da tarde e da noite; de levar as crianças para a cama e vê-las acordarem alegremente, no dia seguinte, porque, de certa forma, já se esqueceram um pouco das aulas e não estão sentindo mais a falta dos coleguinhas de escola, felizes porque têm em casa agora, durante todo o dia, o papai, a mamãe, e, muitas vezes, ainda outros, mesmo que sintam falta de visitar os avós...
É... Como diz meu esposo, o mundo todo deu uma guinada tremenda em poucas semanas! E como eu gosto de pensar positivamente, dentro da máxima de que "não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe", quero concluir que tudo vai passar e que muita coisa boa vamos colher desses dias tão diferentes que estamos vivenciando agora, todos nós - praticamente, toda a humanidade. E teremos, no mínimo, belas histórias pra contar para netos e bisnetos, que acharão difícil acreditar, tanto mais, quanto mais afastados da época atual.
Mas, voltando ao título, as minhas pequenas tarefas diárias adquiriram também novo sabor, já que, não tendo que sair de casa, faço-as com mais carinho e lento cuidado: lavar a pequena fonte de água benta, acrescentando mais um copo d'água, sempre que necessário; dar corda no relógio de parede, antigo presente meu para o meu esposo; lavar o filtro e colocar nova água; manter a casa e arredores bem limpos; molhar as plantas; alimentar os meus peixinhos, cuidando da limpeza e mantendo a bombinha funcionando; cuidar de uma alimentação saudável para nós dois, apenas; atender ao telefone e campainha; missa diária - agora apenas na televisão ou computador; e orar, orar e orar; coisas que, se eu não fizer, não há quem as faça! E com maior satisfação, eu as faço agora, porque tenho tempo de sobra!
Porém, mães dentistas, professoras de tempo integral, profissionais de dedicação exclusiva, trabalhadoras de outros ramos, que estavam acostumadas a ficarem fora de casa o dia todo, estão realmente achando, no mínimo, estranho, essas novas tarefas domésticas, esse novo jeito de viver a vida! Pois, além de não poderem sair para trabalhar, tiveram que dispensar suas secretárias e fazer em sua casa, o que era responsabilidade delas. Quem diria!!! Isto tudo, pela ação maldosa de um simples coronavírus!!!
Trabalhei fora durante quarenta e seis anos, mas, como, após o casamento, era apenas em um período, nunca deixei de cuidar de minha casa, contando com alguém, apenas quando os filhos eram pequenos, no período em que eu estava no trabalho! Por isto, sempre cuidei dessas tarefas domésticas, sobrando ainda tempo para ler e escrever. Agradeço muito a Deus, por todas as coisas que tenho feito em minha vida. Obrigada, Senhor!
(Celina - 06/04/2020)