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PINCELADAS
O Sr. Pedro aceitou levar-nos ao
aeroporto, mais uma vez. Conversa vai, conversa vem, falou-nos de seu avô, que
tinha o mesmo nome. Contou-nos fatos interessantes a respeito dele, disse que
era muito bravo, e eu me lembrei de um
tal Pedro Barão, um vizinho nosso, quando morávamos lá pras bandas de Rodeiro
de Ubá, Diamante, Ubeba, lá longe, entre as plantações da zona rural. Um
pequeno desentendimento entre ele e meu pai, virou caos total!
Nós, crianças, nada entendíamos;
chega lá um caminhão e começam a colocar ali, os trapos de uma família que se
despede daquele pedaço de chão. Naquele dia, não fomos para a escola, a escola
é que veio até nós! Carregando às pressas, as poucas coisas que possuíamos, de
repente, chega a professora e com ela, todos os nossos colegas, para se despedirem de
nós.
Minha mãe, pessoa forte, naquele
momento, apavorada, era ajudada por um irmão e alguns bons vizinhos; era
preciso sair rápido dali, meu pai estava jurado de morte. Sabe quantos
filhos?... Sete! Todos pequenos. Eu ocupava o terceiro lugar na fila e tinha
apenas sete anos!... E olhe que aquele senhor – que Deus o tenha! – era um
simples vizinho, morava do outro lado da estrada, nem era o dono do espaço que
ocupávamos... Mas, diziam que era bravo mesmo!
Fecharam as portas! Deixamos para trás uma história de vida, construída
ali, junto aos familiares de minha mãe. Difícil calcular pensamentos dela naqueles
momentos de aflição, mas de uma coisa me lembro bem: trazia nas mãos, durante
todo o tempo, o terço de Nossa Senhora! Para trás ficaram animais,
plantações, nossos cinco pés de manga, enormes, lindíssimos, onde brincávamos e
nos deliciávamos com seus adoráveis frutos.
Fomos para a casa de uma irmã do meu
pai - santa mulher, a saudosa Tia Marcelina - até conseguir um teto, com um terreno,
a fim de que meu pai pudesse voltar a
lavrar a terra, para dar de comer aos sete filhos - depois, vieram ainda mais
quatro! Meus pais, grandes heróis!
Tudo isto me veio à mente - como é
fantástico o pensamento! - antes de chegarmos ao aeroporto. O Sr. Pedro retorna
com o nosso carro e, observando os meninos entusiasmadíssimos com a situação,
fico a comparar as duas: que diferença! Fila de atendimento especial, riqueza
de detalhes, aviões estacionados, uns que chegam, outros tantos que se vão! E,
apesar de tantos que voam, o grito do Lukinha, que comemora a presença de uma
camionete amarela no pátio. E a alegria da Gabizinha: "O vião tá subindo,
vovó!" E mais tarde: "O vião palô, vovó! O vião palô!" Como é
que pode? Uma velocidade tão grande e ele parece mesmo estar parado no ar!...
E, com tantas nuvens no céu, o gracejo de Luciano: "Devemos estar
passando sobre Diamantina!"
Pois é, gente, considerando
esta situação - e muitas outras semelhantes, de todos os membros
desta nossa imensa família - comparando-as, àquela longínqua situação,
creio que podemos proclamar, com alegria: Não foi uma bênção aquele
desentendimento lá atrás, no começo de nossa história, quando fomos arrancados
da roça? Claro, passamos por angústias e dificuldades, mais nossos
pais que nós, crianças, que não conhecíamos a dimensão do problema. Mas, com
Deus, a gente sempre vence! Fomos para a cidade de Teixeiras, onde
tivemos condições de estudar, trabalhar, constituir família, filhos maravilhosos,
que dão sua contribuição pelos mais longínquos rincões de nosso país, em trabalhos e passeios divertidos, dentro e fora
dele, ganhando o mundo, numa vida digna e feliz. Agradeçamos a Deus, por tantas
dádivas!