quarta-feira, 18 de novembro de 2015

187 - PINCELADAS

187 - PINCELADAS

O Sr. Pedro aceitou levar-nos ao aeroporto, mais uma vez. Conversa vai, conversa vem, falou-nos de seu avô, que tinha o mesmo nome. Contou-nos fatos interessantes a respeito dele, disse que era muito bravo,  e eu me lembrei de um tal Pedro Barão, um vizinho nosso, quando morávamos lá pras bandas de Rodeiro de Ubá, Diamante, Ubeba, lá longe, entre as plantações da zona rural. Um pequeno desentendimento entre ele e meu pai, virou caos total!

Nós, crianças, nada entendíamos; chega lá um caminhão e começam a colocar ali, os trapos de uma família que se despede daquele pedaço de chão. Naquele dia, não fomos para a escola, a escola é que veio até nós! Carregando às pressas, as poucas coisas que possuíamos, de repente, chega a professora e com ela, todos os nossos colegas, para se despedirem de nós.

Minha mãe, pessoa forte, naquele momento, apavorada, era ajudada por um irmão e alguns bons vizinhos; era preciso sair rápido dali, meu pai estava jurado de morte. Sabe quantos filhos?... Sete! Todos pequenos. Eu ocupava o terceiro lugar na fila e tinha apenas sete anos!... E olhe que aquele senhor – que Deus o tenha! – era um simples vizinho, morava do outro lado da estrada, nem era o dono do espaço que ocupávamos... Mas, diziam que era bravo mesmo!

Fecharam as portas! Deixamos  para trás uma história de vida, construída ali, junto aos familiares de minha mãe. Difícil calcular pensamentos dela naqueles momentos de aflição, mas de uma coisa me lembro bem: trazia nas mãos, durante todo o tempo, o terço de Nossa Senhora! Para trás ficaram animais, plantações, nossos cinco pés de manga, enormes, lindíssimos, onde brincávamos e nos deliciávamos com seus adoráveis frutos. 

Fomos para a casa de uma irmã do meu pai - santa mulher, a saudosa Tia Marcelina - até conseguir um teto, com um terreno, a fim de que  meu pai pudesse voltar a lavrar a terra, para dar de comer aos sete filhos - depois, vieram ainda mais quatro! Meus pais, grandes heróis!

Tudo isto me veio à mente - como é fantástico o pensamento! - antes de chegarmos ao aeroporto. O Sr. Pedro retorna com o nosso carro e, observando os meninos entusiasmadíssimos com a situação, fico a comparar as duas: que diferença! Fila de atendimento especial, riqueza de detalhes, aviões estacionados, uns que chegam, outros tantos que se vão! E, apesar de tantos que voam, o grito do Lukinha, que comemora a presença de uma camionete amarela no pátio. E a alegria da Gabizinha: "O vião tá subindo, vovó!" E mais tarde: "O vião palô, vovó! O vião palô!" Como é que pode? Uma velocidade tão grande e ele parece mesmo estar parado no ar!... E, com tantas nuvens no céu,  o gracejo de Luciano: "Devemos estar passando sobre Diamantina!" 

Pois é,  gente,  considerando   esta  situação  -  e  muitas outras semelhantes, de todos os membros desta nossa imensa família -  comparando-as, àquela longínqua situação, creio que podemos proclamar, com alegria: Não foi uma bênção aquele desentendimento lá atrás, no começo de nossa história, quando fomos arrancados  da roça? Claro, passamos  por angústias e dificuldades, mais nossos pais que nós, crianças, que não conhecíamos a dimensão do problema. Mas, com Deus, a gente sempre vence!  Fomos para a cidade de Teixeiras, onde tivemos condições de estudar, trabalhar, constituir família, filhos maravilhosos, que dão sua contribuição pelos mais longínquos rincões de nosso país, em  trabalhos e passeios divertidos, dentro e fora dele, ganhando o mundo, numa vida digna e feliz. Agradeçamos a Deus, por tantas dádivas!