285 - ... E O
AMOR?!...
Saí cedo hoje,
pra capela do hospital e só cheguei agora. Quase onze horas! O dia já vai alto
e está na hora de providenciar o almoço. Antes, vou procurar um determinado
papel na pasta de documentos e encontro uma carta antiga - Diamantina, 29/03/90
– Carta, nada: um compêndio, com outras datas: 01/04/90; 02/04/90... e por aí vai. Morávamos em Diamantina e o
Waldívio foi transferido para Barão de Cocais. Não nos mudamos pra lá porque os
meninos estavam já num estágio avançado com relação aos estudos e não seria bom
pra eles. Eu lecionava, na E.E. Profª. Júlia Kubitschek e fazia pedagogia na FAFÍDIA.
Estávamos construindo e aí é que o bicho pegou de verdade! Sozinha em casa,
cuidando de quatro filhos adolescentes, trabalhando, estudando, supervisionando
a construção e dando andamento em todo o material necessário!
Gente, parei!
Reli tudo e - sinceramente - fiquei com dó de mim! Numa sequência de ações, eu
falo de pedra, brita, areia, cimento, tábuas, sinteco... Falo de engenheiro, pedreiros,
pintores... Falo de preços e inflações... Falo de estudos e trabalhos, de
filhos e amigos... Nomes diversos: Fernando, Madecaus, Jorginho, João, Zé
Cachimbo, Geraldo Antônio, Dona Maria, Pedrinho, Márcio, Manoel, Tarcísio,
Ricardo, Olivaldo, Evandro, entre
outros, todos ligados ao momento de
tumulto, na finalização da construção!
E em meio a tanta
confusão, um trecho gostoso, que transcrevo: “ O Walcely é que fez um bom
programa. Ontem, juntaram colchões, roupas de cama e foram dormir lá no quarto
dele: ele, o Júnior e o Fred. Levaram leite, café, suco, biscoitos, sanduiches,
toca-fitas, e até televisão. A Antonieta foi conosco para levar as bagagens e
ficou encantada com a casa. Passamos um pano no chão, puseram os colchões e
dizem que dormiram a valer. Levantaram cedo, juntaram as tábuas lá embaixo,
tomaram banho e fui buscá-los para o almoço. A mãe de Fred achou um barato, o
programão que fizeram.” Será que eles se lembram desse piquenique?...
Esta carta de
dezesseis páginas, que enviei e voltou depois na mala para as minhas mãos,
fez-me lembrar das trezentas cartas minhas que enviei a ele, quando namorados,
em curto espaço de tempo em que ele foi dispensado do Banco e precisou mudar de
Teixeiras. Tempo difícil que passamos, separados, quando nem podíamos contar
com um aparelho de telefone. O recurso era mesmo utilizar o serviço, na época, precário,
dos correios; por isto guardei, numeradas, trezentas cartas daquele período. E
sabe quantas dele? Apenas cinquenta! Mas que foram lidas e deliciadas, mais de
cinquenta vezes cada uma!
Parei de escrever um pouco agora, subi e lá
está ele, bem dormindo... Fiz o sinal da cruz, agradecendo a Deus por tanta
bênção! Encontrei um dia esta definição: “Casamento - é um namoro que deu
certo!” E eu completo, com toda certeza: bodas de prata, ouro, diamantes... é
um casamento que deu certo! E deu certo,
pelo amor cultivado, pelas lágrimas derramadas, pela perseverança nos
propósitos, apesar das dificuldades comuns a qualquer relacionamento.
Hoje, com tanto
descarte, peço a Deus que tenha misericórdia dos casais para que possam
enfrentar, com coragem, os reveses da vida! Porque é muito gratificante saber
que lutou e venceu; e que se pode comprovar que, realmente, após a tempestade, vem a bonança. E que se
pode afirmar, com convicção, que o amor vem de Deus, e que com amor se
persevera na luta, se delicia com bons momentos e se vence todas as noites
tempestuosas que forem surgindo ao longo da caminhada. Obrigada, meu Deus, pelo
amor cultivado, pela luta enfrentada, pela proteção divina recebida!
(Sete Lagoas,
31/03/17)