domingo, 2 de abril de 2017

285 - ... E O AMOR?!...

285 - ... E O AMOR?!...

Saí cedo hoje, pra capela do hospital e só cheguei agora. Quase onze horas! O dia já vai alto e está na hora de providenciar o almoço. Antes, vou procurar um determinado papel na pasta de documentos e encontro uma carta antiga - Diamantina, 29/03/90 – Carta, nada: um compêndio, com outras datas: 01/04/90; 02/04/90...  e por aí vai. Morávamos em Diamantina e o Waldívio foi transferido para Barão de Cocais. Não nos mudamos pra lá porque os meninos estavam já num estágio avançado com relação aos estudos e não seria bom pra eles. Eu lecionava, na E.E. Profª. Júlia Kubitschek e fazia pedagogia na FAFÍDIA. Estávamos construindo e aí é que o bicho pegou de verdade! Sozinha em casa, cuidando de quatro filhos adolescentes, trabalhando, estudando, supervisionando a construção e dando andamento em todo o material necessário!

Gente, parei! Reli tudo e - sinceramente - fiquei com dó de mim! Numa sequência de ações, eu falo de pedra, brita, areia, cimento, tábuas, sinteco... Falo de engenheiro, pedreiros, pintores... Falo de preços e inflações... Falo de estudos e trabalhos, de filhos e amigos... Nomes diversos: Fernando, Madecaus, Jorginho, João, Zé Cachimbo, Geraldo Antônio, Dona Maria, Pedrinho, Márcio, Manoel, Tarcísio, Ricardo,  Olivaldo, Evandro, entre outros,  todos ligados ao momento de tumulto, na finalização da construção!

E em meio a tanta confusão, um trecho gostoso, que transcrevo: “ O Walcely é que fez um bom programa. Ontem, juntaram colchões, roupas de cama e foram dormir lá no quarto dele: ele, o Júnior e o Fred. Levaram leite, café, suco, biscoitos, sanduiches, toca-fitas, e até televisão. A Antonieta foi conosco para levar as bagagens e ficou encantada com a casa. Passamos um pano no chão, puseram os colchões e dizem que dormiram a valer. Levantaram cedo, juntaram as tábuas lá embaixo, tomaram banho e fui buscá-los para o almoço. A mãe de Fred achou um barato, o programão que fizeram.” Será que eles se lembram desse piquenique?...

Esta carta de dezesseis páginas, que enviei e voltou depois na mala para as minhas mãos, fez-me lembrar das trezentas cartas minhas que enviei a ele, quando namorados, em curto espaço de tempo em que ele foi dispensado do Banco e precisou mudar de Teixeiras. Tempo difícil que passamos, separados, quando nem podíamos contar com um aparelho de telefone. O recurso era mesmo utilizar o serviço, na época, precário, dos correios; por isto guardei, numeradas, trezentas cartas daquele período. E sabe quantas dele? Apenas cinquenta! Mas que foram lidas e deliciadas, mais de cinquenta vezes cada uma!

 Parei de escrever um pouco agora, subi e lá está ele, bem dormindo... Fiz o sinal da cruz, agradecendo a Deus por tanta bênção! Encontrei um dia esta definição: “Casamento - é um namoro que deu certo!” E eu completo, com toda certeza: bodas de prata, ouro, diamantes... é um casamento que deu certo!  E deu certo, pelo amor cultivado, pelas lágrimas derramadas, pela perseverança nos propósitos, apesar das dificuldades comuns a qualquer relacionamento.

Hoje, com tanto descarte, peço a Deus que tenha misericórdia dos casais para que possam enfrentar, com coragem, os reveses da vida! Porque é muito gratificante saber que lutou e venceu; e que se pode comprovar que, realmente,  após a tempestade, vem a bonança. E que se pode afirmar, com convicção, que o amor vem de Deus, e que com amor se persevera na luta, se delicia com bons momentos e se vence todas as noites tempestuosas que forem surgindo ao longo da caminhada. Obrigada, meu Deus, pelo amor cultivado, pela luta enfrentada, pela proteção divina recebida!

(Sete Lagoas, 31/03/17)