257 - A CRÔNICA DO DIA
Esta é mais uma crônica, escrita
quando morávamos em Diamantina; mas poderia ser de hoje - ou de amanhã, talvez!
Infelizmente... Mas digo que me arrepio, ainda agora, ao relembrar a cena.
Intitulei-a "Por quê?” Estamos sempre cheios de interrogações pelas cenas
que presenciamos a cada dia, e a tristeza é grande, ao reconhecer nossa
impotência perante tal situação. Mas,
vamos à crônica:
POR QUÊ?...
Temos poucos
minutos para irmos da Praça Sete à rodoviária. A gente voa quase, pois corremos
o risco de perder o ônibus das quinze e trinta. Que sufoco! Gente trombando na
gente; gente empurrando a gente; gente, gente, gente! E nós, trombando também,
porque... o tempo está realmente curto! E atravessando ruas na frente de carros,
pois não dá pra esperar o sinal.
De repente, eu
paro. Paro e olho; e começo a pensar. Meu corpo todo se arrepia. Alguma coisa
me sufoca... Suspiro!... Recupero. Dou a volta. E continuo a correr.
Por quê, meu
Deus? Por que tanta miséria? Por que esses farrapos humanos pelas ruas se nos
deste uma terra fértil, uma terra tão rica, tão boa? Por quê?...
Meu filho havia
dito, momentos antes "de tanto ver miséria pelo mundo, a gente acaba se
acostumando." Mas, não! Aquilo era demais! Um senhor já de idade avançada,
jogado ali, daquela forma, uma ferida enorme na perna! Um buraco de uma carne
podre, purulenta, hedionda! Que coisa horrível, meu Deus!
E gente pra lá
e pra cá, gente cheia de vida, carregada de embrulhos, de saúde, de dinheiro...
de indiferença!
Por que ninguém
faz algo por este ser miserável, que jaz vivo na calçada?... Por que eu não
faço nada por este, que também é filho de Deus? Por quê?
Uma vontade de
gritar, de chorar, de clamar em altos brados, gritar como Castro Alves: "Deus, ó Deus, onde estás que não respondes?!"
O que poderemos
fazer por aqueles infelizes? Você, leitor, o que poderá fazer? E os
governantes? Não têm condições de fazer alguma coisa?
Gente, vamos fazer,
pelo menos, isto: uma corrente de oração, uma corrente bem forte, suplicando a
Deus: piedade! piedade! piedade!
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Misericórdia, Senhor!!!
(Sete Lagoas, 08/10/16)