443 - Sobrevivência!
Varrendo lá fora, vi um dos filhotinhos no chão. Empenadinho já, mas todo encolhidinho, coitado! Tremendo de frio. Eu deveria pegá-lo, colocá-lo novamente no ninho. Mas tive receio. Sou meio desastrada com essas coisas e temia que o ninho caísse com os dois.
Nós os acompanhávamos desde os ovinhos, naquele ninho tão frágil, mal feito, apenas alguns raminhos indecisos. Meu esposo o amarrou, quando vimos os filhotinhos: "Quando crescerem um pouquinho, vão cair com o ninho e tudo. Estas pombinhas são muito relaxadas!"
Cresceram sim. E a gente acompanhando. Um ninho simplesinho, equilibrando-se em duas barrinhas de ferro, que antes serviam de sustentação a um sombrite que cobria o orquidário. Tantas árvores por ali, ramos fortes, folhagens espessas e deram preferência para aquele local. Se bem que o ninho estava debaixo de uma enorme folha de mamoeiro, que o livrava do sol forte e, parece, até da chuva.
Bem. Mas agora, um dos filhotinhos estava ali, caído no chão frio. Colocá-lo lá de novo, arriscando-se com a queda do ninho e, consequentemente, dos dois, ou esperar acordar quem sabe fazê-lo com segurança? Na dúvida, optei pela segunda.
E esperei... E esperei! Olhava para ele com dó e com raiva de uns pais sem compromisso, ou preguiçosos, que deixam os filhos assim, sem segurança.
Meu esposo sempre mexeu com passarinhos e entende bem disto. Quando ele se levantou, falei com alívio: Estava esperando você para colocar no ninho um dos filhotinhos que caiu no chão. Corremos para lá. E ele, desanimado: "Ah! Já morreu. Por que você não o colocou lá de volta?"
Fiquei triste, mas ele compreendeu minha explicação: deixar um morrer ou arriscar matar os dois? Mas não dei muito tempo pra me chamar de covarde, não: toquei no passarinho e as asinhas se mexeram: Tá vivo! Põe depressa lá! E fiquei vigiando. A mãe retornou e se aninhou sobre eles. E eu rezando pra que ele não morresse por minha culpa.
À noite, pareceu-me sentir cheiro de alguma coisa queimando e vim à cozinha ver se meu esposo deixara algo ligado no fogão, mas vi que não. Só que, esquecendo-me de agasalhar, voltei para a cama com um tremendo frio. Aí fico pensando no filhotinho: teria ele sobrevivido? Teria se aquecido após tanto frio?
E pior, comecei a me lembrar dos moradores de rua. Ai, meu Deus! E foi para rezar o resto da noite, por aqueles que estavam sentindo mais frio que eu. Quem disse que consegui dormir de novo?
No outro dia, corro para ver o ninho. A mãe estava lá sobre eles. Graças a Deus! Devem estar bem quentinhos! Mas não sei como uns raminhos daqueles podem suportar o peso dos três. Quando ela saiu, fui lá. Afastei um pouco a folha do mamoeiro e um solzinho bem gostoso, os aqueceu. Lá estavam os dois bem juntinhos. Não dava pra saber qual era o fujão; os dois estavam igualmente bem. Fiquei feliz. E pedi a Deus que as minhas preces tenham tido validade também para os humanos, aquecendo-os nas noites frias que tanto nos incomodam.
Isto foi há uns cinco dias. Ali estão eles, já com as cabecinhas de fora, felizes, olhando pra mim, com carinha de safados. E nem sabem que me fizeram perder o sono... É assim!
Daqui a poucos dias, estarão voando por aí, pisando nas minhas plantinhas, atrapalhando os meus canteiros, à procura de insetos. E depois farão outros ninhos. Espero que os façam melhores para que eu não passe por uma experiência ruim assim de novo, que me levou mais da metade do sono daquela noite. Vão se somar ao time enorme daqueles que já se acham no direito de atrapalhar meu canteirinho de rúcula! Fazer o quê, não é? Todos precisam se alimentar...
(Celina - 31/05/2020)
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