Capítulo III
SER FELIZ,
com os eufóricos!
Não pense que, em nossa infância, a vida era triste. Não! Muito pelo contrário: os pobres, da roça, sempre pessoas muito unidas e alegres, vivem felizes: trabalham todos juntos pelo mesmo ideal; rezam juntos; divertem-se juntos, na medida do possível...
Domingo, quando havia celebração da Santa Missa na
igrejinha que ficava perto da escola, lá íamos todos para a igreja. E era uma
festa! A gente rezava com gosto, naquele local bem diferente da nossa casa.
E as pessoas que lá estavam eram todas
conhecidas. E vizinhas. E amigas. Depois voltávamos felizes para casa,
renovados, conversando, juntos, aqueles que moravam próximos.
E havia um campo de futebol, ali mesmo, ao lado da
escola. Ficavam numa espécie de praça, onde havia, de vez em quando, nas tardes
de domingo – ou sábados – uma boa
partida de futebol. E foi ali que um dia, meu tio, irmão da minha mãe, que, por
sinal, era meu padrinho, comprou pra mim, um balão. Era tão lindo - eu achava
naquele dia, naquela hora! Mas não me lembro nem um pouquinho dele, mesmo
porque, durou tão pouco tempo em minhas mãos…
Fiquei toda entusiasmada, segurando em minhas frágeis
mãozinhas, aquele tesouro tão valioso. Um tesouro que o meu padrinho comprou
para mim! Eu já nem olhava para ele, que estava lá no campo, correndo, como os
outros, atrás de uma bola. Eu tinha olhos apenas para o meu balão – o meu
balão!
E, de repente, ele se solta! A linha fugiu. Tentei
pegar. Meu pai também, certamente! – não me lembro. Mas perdemos a ponta da
corda. E ele se foi! Lindo! Maravilhoso! Subindo... subindo...
Não sei que palavras meus pais usaram para me
consolar. Minha mãe, sempre meio brava, deve ter me dado uma pequena bronca,
por eu ter soltado a cordinha que prendia o balão e que o fazia meu; mas não me
lembro bem: eu era muito pequena. Isto foi há quase setenta anos! Só sei que o
meu padrinho voltou quando acabou o
jogo, e eu já estava sem o presente. Ele ficou triste, mas não comprou outro:
não devia ter mais dinheiro, ou o moço dos balões já havia ido embora – ou
minha mãe deve ter-lhe dito que não o fizesse. Quem sabe, ele também estivesse
triste, porque o seu time perdeu, ou eufórico demais, para se compadecer de uma
garotinha boba, depois de uma vitória no futebol... São apenas meras
suposições, porque, como disse, não me lembro mesmo.
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