486 - Sentado à Beira do Caminho...
Esta pandemia, ao mesmo tempo que nos priva de muitas coisas, tem a capacidade de nos fornecer tantas outras... Que tempo diferente este que estamos vivenciando! Acostumados todos nós a uma rotina mais ou menos tumultuada, de agenda cheia, vivendo agora um distanciamento forçado, muitas vezes nos aproximamos de coisas e pessoas, numa situação que, em alguns casos, nos remonta a um tempo que se pensava esquecido ou guardado a sete chaves nas gavetas da existência.
E foi assim que voltamos a ser nós dois! Apenas nós dois! Como outros avós, impedidos do contado com filhos e netos, e amigos, e pessoas que estávamos acostumados a receber em nossa casa. Sem visitas, e sem sair de casa, sobra-nos muito tempo para o diálogo sincero de tempos que se foram...
Meu esposo gosta muito de falar. E tem me contado tantos fatos interessantes de sua vida, que eu desconhecia. E foi nesses momentos bons de conversação a dois, que ele me veio com esta música: "Sentado à beira do caminho".
Disse que estava indo com um amigo seu, talvez para Belo Horizonte. Já bem perto de Paraopeba, o carro deu problema e o motorista foi procurar socorro. Ele ficou ali, na estrada, ao lado do carro, sentado à beira do caminho. E diz que não sabe exatamente, se algum outro carro passou cantando essa música, ou se foi ele mesmo quem se lembrou dela e começou a refletir sobre sua vida...
Bateu então um desespero ao pensar que estava já com vinte e três anos, sem estudo, sem emprego, sem condição de vida, sentado ali, na beira da estrada, questionando-se: O que haveria de ser do seu futuro, naquelas condições?... Falou-me disto com tanta tristeza, que aquilo machucou profundamente o meu coração! Fiquei com tanta pena dele!...
Este e outros fatos de sua vida, que eu ainda desconhecia, apesar dos cinquenta e dois anos de intensa convivência, fizeram-me profundamente agradecida a esta situação atual, quando, ao mesmo tempo que a gente é forçada a se isolar, a se distanciar dos demais membros da família, nos dá, a todos nós, uma excelente oportunidade de nos conhecermos melhor. Creio que está acontecendo isto com muita gente!
Claro que não estamos aplaudindo a doença! É muito triste o que está acontecendo com toda a população mundial. E estamos todos sofrendo muito com esta situação. É simplesmente uma forma de driblar a nostalgia do momento e, como Pollyanna, jogar um pouco o seu conhecido jogo do contente.
(Celina - 03/09/2020)
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