416 - Relembrando...
Fotos são boas ferramentas para se lembrar. Principalmente quando a distância é enorme e o fato já se perdeu nas curvas da estrada da vida.
E você me lembra detalhes, chamando-nos de heroínas! Realmente, posso concordar com você. Chego a sentir o cheiro daquele bife acebolado. E posso ouvir nitidamente o comentário das colegas a respeito do estômago que reclamava! Porém, nada se podia fazer. Nada!!! O trem não tinha horário. Nunca teve! Mas precisávamos dele. No momento, não havia alternativa!
Heroínas, sim! Nunca havia pensado nisto! Mas não é que é verdade? Às cinco da manhã, já o esperávamos na Estação de Teixeiras. Chegávamos muito cedo a Viçosa. Um frio cortante! E ficávamos lá, esperando que os ponteiros andassem mais rápido, para começarem as aulas.
E a volta para casa era uma incógnita. Algumas vezes, ele chegava às onze horas; e o agente da Estação ligava pra Escola. Então, perdíamos o último horário e saíamos correndo pelas ruas, feito loucas; o trem não podia esperar!
Outras vezes, ninguém ligava. E ficávamos até o final - mas, não sei qual é o pior: ficávamos lá, no saguão daquele hotel, situado bem à frente da Estação, até tarde; na maioria das vezes, ele chegava às catorze horas, ou mais. E aí era infalível o cheiro que machucava o estômago daquelas catorze mulheres famintas!
Sim, heroínas! Acho que veio a calhar a sua observação, colega! Porque vocês que já moravam em Viçosa, aproveitavam o friozinho debaixo das cobertas até quase sete horas, não é? E depois, quando a gente sentia o cheiro do bife, sem poder sequer vê-lo, vocês já estavam com um bom petisco no prato, saboreando com certeza, um bom alimento, com uma bondosa mãe, ali do seu lado: "Coma, minha filha! Coma para refazer as energias! Você já estudou muito hoje!" Sei!... E as alunas pobres como eu, que não tinham muito o que saborear, quando chegassem em casa...
Tudo passou! Nos dois últimos anos, a situação melhorou um pouco, pois já tínhamos um pequeno ônibus à nossa disposição!
Valeu muito tudo isto! Valeu muito o esforço que fizemos! No segundo semestre do último ano, eu já estava trabalhando, feliz da vida, e só parei, quarenta e seis anos depois. Muito bom relembrar tudo isto!
(Celina - 25/01/2020)
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