sábado, 24 de agosto de 2019

396 - A Assunção de Nossa Senhora



396 - A Assunção de Nossa Senhora

Alguns dias já se passaram. João continua ali, sentado ao lado do corpo de Maria que parece dormir em paz. As flores estão frescas como se fossem colhidas há poucas horas, mas os ramos de oliveira já estão com as folhas murchas. A luz da candeia, que está posta no chão, ilumina o rosto  de  João, que, vencido pelo cansaço, pegou no sono.

Agora, eu, Celina, copio, na íntegra, o que me encantou: " De repente uma grande luz enche o quarto, uma luz prateada, esfumada de azul, quase fosforescente, e que sempre vai aumentando, anulando a do alvorecer e a da candeia. É uma luz igual aquela que inundou a gruta de Belém, no momento do Nascimento de Jesus. Depois, naquela luz do Paraíso se manifestam criaturas angélicas, numa luz ainda mais esplêndida do que a luz, já tão poderosa, que apareceu antes. Como aconteceu, quando os anjos apareceram aos pastores, numa dança de centelhas de todas as cores que escapam das asas deles, brandamente movidas, e dos quais vem um murmúrio de harmonias, arpejado, muito agradável.
     As criaturas angélicas se dispõem em círculo, ao redor da pequena cama, levantam-se diante dela, levantam o corpo imóvel e, com um forte bater de asas, que aumenta o som que já se ouvia antes, por uma passagem que se abriu prodigiosa no telhado, como, prodigiosamente se tinha aberto o Sepulcro de Jesus, e lá se vão eles, levando consigo o corpo de sua Rainha Santíssima, é verdade, mas não ainda glorificado e por isso ainda sujeito às leis da matéria, sujeição essa, à qual não estava mais sujeito o Cristo, porque Ele já estava glorificado, quando ressurgiu dos mortos. O som produzido pelas asas angélicas aumenta, e agora já está tão forte como o som de um órgão.
       João que, adormecido, já tinha, duas outras vezes caído do escabelo,  como se estivesse perturbado pela grande luz e pelo som das asas angélicas, agora despertou completamente com aquele som poderoso e por uma corrente de ar que, descendo do teto descoberto, e saindo pela porta aberta, forma um redemoinho que agita as cobertas do leito, e agora está vazio, e as vestes do João, apagando a candeia, e fechando com uma batida forte a porta aberta.
     O apóstolo olha ao redor de si, ainda um pouco sonolento, para ir informar-se sobre o que está acontecendo. Aí ele percebe que o leito está descoberto. E logo entende que um prodígio aconteceu. Corre para fora por sobre o terraço e, como por um instinto espiritual, ou por um chamado celeste, ele levanta a cabeça, fazendo um anteparo com a mão, para poder olhar sem ter o obstáculo que vem do nascente sobre os seus olhos. 
     E ele vê. Vê o corpo de Maria, ainda sem vida, mas em tudo semelhante a uma pessoa adormecida, que vai subindo cada vez mais para o alto, levada pela escolta angelical. Como para uma última saudação de despedida, uma tira do manto, e outra do véu se agitam, talvez pela força do vento causado pela rápida subida e pelo movimento das asas dos anjos e pelas flores, aquelas que o João havia colocado ao redor do corpo de Maria, e que certamente ficaram nas dobras das vestes e vão caindo sobre o terraço e o terreno de Getsêmani, enquanto o canto do hosana dos anjos vai-se ouvindo cada vez mais longe e portanto mais fraco.
     João continua a olhar para aquele corpo, que vai subindo para o Céu e, certamente por um prodígio a ele concedido por Deus, para consolá-lo e premiá-lo por seu amor à sua mãe adotiva, e ele vê, distintamente, que Maria, envolta agora pelos raios do sol, que já surgiu, sai daquele êxtase, que lhe havia separado a alma do corpo, volta à vida, põe-se de pé, porque agora ela também já goza dos dons que são próprios dos corpos já glorificados.
     João olha, fica olhando o milagre que Deus lhe concedeu ver: Maria, contra todas as leis naturais, como ela está agora, enquanto vai subindo arrebatada para os Céus, rodeada, mas não mais ajudada pelos anjos, que cantam hosanas. E João também está agora arrebatado por aquela visão de beleza, que nenhuma pessoa humana, nenhuma palavra, nenhuma obra de artista poderá nunca descrever, ou reproduzir, porque é de uma beleza indescritível.
     João, estando sempre apoiado na mureta do terraço, continua a olhar para aquela esplêndida e esplendente forma, pois realmente se pode dizer assim de Maria, formada de um modo único por Deus, que quis que ela fosse imaculada, para que assim pudesse ser uma habitação para o Verbo Encarnado, que sobe sempre mais para o alto. E um último e supremo prodígio Deus-Amor, Deus o concede a este que lhe tem o perfeito amor: e é o de ver o encontro da Mãe Santíssima com seu Santíssimo Filho, que, sendo Ele também esplêndido e esplendente, belo, e de uma beleza indescritível, desce do Céu, chega até sua Mãe e a aperta ao coração e, juntos, mais fulgentes do que os dois astros maiores, com ela volta para o lugar de onde tinha vindo.
     E o que João estava vendo terminou. Ele abaixa a cabeça. Em seu rosto cansado podem ver-se a dor por ter perdido Maria e a alegria pela gloriosa sorte dela. Mas a alegria já supera a dor.
    E ele diz: 'Eu te agradeço, meu Deus. Obrigado! Eu bem que pressentia que isto teria acontecido. E eu queria velar, a fim de não perder nenhum dos episódios de sua Assunção. Mas já havia três dias que eu não dormia! O sono e o cansaço unidos à pena, me abateram e venceram e isso justamente quando a Assunção já estava iminente... Mas talvez Tu mesmo o tenhas querido, ó Deus, para que eu não me perturbasse naquele momento, e não sofresse demais... Sim. Certamente Tu o quiseste, como agora quiseste que eu visse o que, sem um milagre teu, eu não teria podido ver. Tu me concedeste vê-la ainda, ainda que tão longínqua, mas já glorificada e gloriosa, como se estivesse perto de mim. E tornar a ver Jesus! Ó que visão felicíssima, inesperada e inesperada! Ó dom dos dons de Jesus - Deus ao seu João! Que graça suprema. Tornar a ver o meu Mestre e Senhor! E vê-lo perto da Mãe! Ele semelhante ao sol, e Ela à lua, esplendidíssimos os dois, e para serem gloriosos e felizes, por estarem reunidos para sempre!..."

(E continua o colóquio de João com o  próprio Deus, mas eu fico por aqui, com uma gratidão imensa a Deus, a João e ao Pequeno João, como Jesus chamava à Sua humilde serva, Maria Valtorta)
(Sete Lagoas, 24/08/19)

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