Esta é mais uma crônica
publicada no jornal "Voz de Diamantina", há algum tempo:
249 - PARE, POR FAVOR!
“A viagem
transcorria tranquilamente. Viajava de maneira confortável, pois a poltrona do
meu lado estava vazia. Porém, daí a pouco, o ônibus pára e entra alguém que,
pedindo licença, se assenta a meu lado. Acomoda-se, fecha um pouco a janela,
tira do bolso um cigarro, acende-o, e logo, a fumaça da primeira baforada vem
passar bem rente ao meu nariz. E aquele ar que respiro leva pela primeira vez,
naquela viagem, um estranho e indesejável visitante para o interior do meu
organismo.
Não sei se uma
parte foi para os pulmões. Mas é certo que uma boa parcela, vai parar no meu
estômago, que reage logo! Sinto arrepios, e olho contrariada, mas de soslaio,
para o novo passageiro: roupas bem gastas e sujas, sapatos que jamais viram
graxa, cobertos por uma poeira pálida e triste.
Fico pensativa;
penso em entabular uma conversação, fazê-lo ver os efeitos destruidores do fumo
em seu organismo, os efeitos negativos sobre sua saúde. Mas me contenho a
tempo. Penso melhor. E rezo. Rezo e peço a Deus que tire daquela pobre criatura,
esse vício horrível, que queima o seu dinheirinho, certamente, com tanta
dificuldade, adquirido, e leva com ele, a sua saúde, que mais cedo ou mais
tarde, se manifestará abalada, pelos efeitos da droga.
Não olho diretamente
para o rapaz, para que ele não pense que a fumaça me incomoda. Afinal, são
apenas alguns quilômetros. Nem sequer vejo seu rosto. Mas peço a Deus que o
faça desistir de seu vício; e verá que o dinheiro que, distraidamente, se
transforma em baforadas pelo ar, poderá ser-lhe muito útil para uma alimentação
mais sadia, e outros desejos que talvez não esteja conseguindo realizar.
E aqui, cabe-nos
uma reflexão: Para que o cigarro?... Por que fábricas de cigarros?... (Ou serão
‘fábricas de doenças do aparelho respiratório?’...) Pensemos!”
****
Hoje, ao reler esta crônica, fico
pensando: Ainda bem que a viagem já estava chegando ao fim, porque, se já não
passava bem em viagens de ônibus, imagine alguém fumando do meu lado?... E
ainda fecha a janela!...
Lembro-me bem desse episódio, bem antigo.
Quase falo com ele, mas talvez ele considerasse
isto como uma reclamação de minha parte. Muitas vezes, é necessário
fazer silêncio e aguentar firme. E foi o que eu fiz naquele momento. Graças a Deus!!!
(Sete Lagoas, 30/08/16)