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- CHEIRO DE INFÂNCIA
Está
ali, no jardim lateral, perfumando o ambiente. Todo ano, ela floresce: uma flor
branca, toda branca, com um perfume suave que me lembra a infância.
Quando
a vi pela primeira vez, lembrei-me no mesmo instante de uma flor, também
branca, também de largas folhas verdes, que floresciam, em grande quantidade,
às margens do córrego que banhava as terras onde plantávamos o arroz.
Não
sei se meus irmãos se lembram disto, talvez minha irmã mais velha traga na
memória, este perfume. Chamávamos, a ela, “Mariazinha”; não sei que nome dão a
esta aqui. Vou tentar descobrir.
Esta
plantinha, que era apenas uma mudinha que uma amiga nos deu, cresceu,
floresceu, perfumou; depois ficou velha e caiu; e sumiu. Parecia ter falecido.
No ano seguinte, lá estava ela, em suas primeiras folhinhas; outras apareceram,
as flores chegaram... E com elas, o perfume e a lembrança da minha
infância.
E
todo ano, a história se repete. E com o perfume e a lembrança, vêm-me à mente,
o sobrado onde morávamos, o porão onde eram armazenados alguns materiais, o
fogão a lenha, as plantações, os animais...
E
vem muito mais: meu pai, que ao raiar do dia, já lá fora estava, plantando,
cuidando, colhendo... E quando a noite chegava, lá estava ele ainda,
trabalhando até tarde, cantando, assobiando, procurando fazer o melhor para
seus muitos filhos...
O
cheiro da flor branca me faz recordar tudo isto, com uma languidez e uma
saudade grande de tudo que se foi, de tudo o que há, e de tudo o que está por
vir...
Minha
florzinha branca, obrigada! Quando te fores embora, esperarei por ti no próximo
ano. Perdoa-me se eu me esquecer de ti por algum tempo, mas pode ter a certeza
de que quando voltares, e exalares aqui o teu perfume, eu me lembrarei
novamente de tudo isto... Porque sei que
as tuas batatas ficam aí, escondidas, dentro da terra, nenhum vestígio, nenhum
verde, nenhum branco, nada aparecendo... Mas agora aprendi! Tu me ensinaste que
podes esconder durante todo o ano e aparecer no próximo - sempre com algum
pezinho a mais - na mesma época e gritares como a Gabi: “Surpresa!!!” Obrigada,
porque sempre chegas! Mas... até quando?!...
(Sete
Lagoas, 18/07/2016)
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