terça-feira, 19 de julho de 2016

243 - CHEIRO DE INFÂNCIA

               
243 - CHEIRO DE INFÂNCIA


Está ali, no jardim lateral, perfumando o ambiente. Todo ano, ela floresce: uma flor branca, toda branca, com um perfume suave que me lembra a infância.

Quando a vi pela primeira vez, lembrei-me no mesmo instante de uma flor, também branca, também de largas folhas verdes, que floresciam, em grande quantidade, às margens do córrego que banhava as terras onde plantávamos o arroz. 

Não sei se meus irmãos se lembram disto, talvez minha irmã mais velha traga na memória, este perfume. Chamávamos, a ela, “Mariazinha”; não sei que nome dão a esta aqui. Vou tentar descobrir.

Esta plantinha, que era apenas uma mudinha que uma amiga nos deu, cresceu, floresceu, perfumou; depois ficou velha e caiu; e sumiu. Parecia ter falecido. No ano seguinte, lá estava ela, em suas primeiras folhinhas; outras apareceram, as flores chegaram... E com elas, o perfume e a lembrança da minha infância. 

E todo ano, a história se repete. E com o perfume e a lembrança, vêm-me à mente, o sobrado onde morávamos, o porão onde eram armazenados alguns materiais, o fogão a lenha, as plantações, os animais...

E vem muito mais: meu pai, que ao raiar do dia, já lá fora estava, plantando, cuidando, colhendo... E quando a noite chegava, lá estava ele ainda, trabalhando até tarde, cantando, assobiando, procurando fazer o melhor para seus muitos filhos...

O cheiro da flor branca me faz recordar tudo isto, com uma languidez e uma saudade grande de tudo que se foi, de tudo o que há, e de tudo o que está por vir...

Minha florzinha branca, obrigada! Quando te fores embora, esperarei por ti no próximo ano. Perdoa-me se eu me esquecer de ti por algum tempo, mas pode ter a certeza de que quando voltares, e exalares aqui o teu perfume, eu me lembrarei novamente de tudo isto... Porque  sei que as tuas batatas ficam aí, escondidas, dentro da terra, nenhum vestígio, nenhum verde, nenhum branco, nada aparecendo... Mas agora aprendi! Tu me ensinaste que podes esconder durante todo o ano e aparecer no próximo - sempre com algum pezinho a mais - na mesma época e gritares como a Gabi: “Surpresa!!!” Obrigada, porque sempre chegas!  Mas... até quando?!...

(Sete Lagoas, 18/07/2016)

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