423 - Mulheres
Guerreiras!!!
Convivo com muitas mulheres, religiosas, sensatas, guerreiras. Até criei
um grupo de whatsapp para que possamos postar boas mensagens, o que nos torna
mais presentes, mais solidárias, mais guerreiras! São mulheres fortes,
verdadeiro esteio para a família.
Porém, se fosse viva, acho que seria a minha mãe, Alvina, a encabeçar a
lista. Uma mulher firme, totalmente família, no verdadeiro sentido da palavra!
Nascida lá longe, bem distante do urbano, na tranquilidade de um lar católico,
pais lavradores, muitas frutas, verduras e cereais - o plantar para
comer!
Um dia, conhece por acaso um rapaz pelo qual se apaixonou. E foi
recíproco: amor à primeira vista! E ele, que já era noivo em sua terra, volta,
desmancha o noivado e começa a namorar aquela que seria a mãe dos muitos filhos
dele. Um namoro difícil, ele indo a cavalo, de vez em quando, visitar uma sua
irmã que morava por aquelas redondezas, encontrava-se com a sua amada.
Encontros rápidos, pois precisava voltar para a sua terra, quase arrimo de
família, ajudando sua mãe a criar os muitos irmãos.
Casaram-se, viviam muito felizes. Logo veio o primeiro filho, alegrando
ainda mais a vida naquele lar. Menos de um ano depois, antes mesmo do primeiro
aniversário daquele menino - (28/09) - chega a primeira filha - (13/09). Que
alegria!
Mas no dia do batizado da filha, oito de dezembro, veio a falecer a sua
mãe. Agora, ela tinha uma filha, mas não tinha uma mãe! Dois filhos pequenos
para criar, e sem uma mãe para ajudar. Sorte sua que seu esposo, Geraldo, amava
profundamente a ela e aos dois filhos e não se importava de ficar acordado à
noite, cuidando dos mesmos, enquanto ela descansava. Era assim o meu pai.
Sempre dedicou um amor profundo a todos os filhos, mas a predileta era a
esposa, a quem amou, desde o primeiro instante em que a viu.
Logo, logo, chega a segunda filha - que sou eu - e a seguir, a terceira
e a quarta; como também o segundo filho e o terceiro. Já possuíam então
esses sete filhos quando aconteceu um fato bem atípico: um desentendimento entre
meu pai e um vizinho, fez com que ele resolvesse se mudar para a terra dos
irmãos dele, para evitar maiores aborrecimentos. E ela, forte e sempre
guerreira, terço na mão, ajeitando a mudança!
Assim, ele se foi e daí a pouco chega um caminhão, que um de seus irmãos
mandou para levar os poucos pertences da família, bem como a sua amada e os
sete filhos. E foi assim que aquela guerreira teve que dizer adeus àquele
lugar, onde sempre residira, com seus pais, irmãos e amigos, deixando tudo pra
trás e indo morar lá longe, numa cidade bem diferente do seu habitat natural. A
principio, enquanto um dos irmãos do esposo tentava conseguir uma casa com um
terreninho que ele pudesse cultivar para dar de comer à família, eles ficaram
na casa de uma irmã dele - a boa samaritana da família - que acolhera com
carinho, esse irmão, e a cunhada, com seus sete filhos! E ela, em silêncio e
oração, esperando que as coisas melhorassem e tudo se acalmasse.
Moraram ainda em outra casa, com outros terrenos para cultivar, até que,
com meu abençoado salário de professora, pude comprar uma casa - a única
realmente deles - para passarem o resto de suas vidas. Uma casa razoavelmente
boa, com muitas frutas, um chiqueiro, galinheiro, tudo de bom para eles que já
estavam acostumados com a criação de animais. Nos fundos, corria uma água
límpida, que vinha de uma nascente da chácara vizinha. Tudo de bom! Nessa
altura dos acontecimentos, já estavam com sua prole completa, pois tiveram mais
quatro filhos nessa cidade. Agora então, com seus onze filhos - quatro homens e
sete mulheres - já tinham finalmente um lugar para chamar de "seu"!
Muitos filhos assim, sempre se tem um grande problema para resolver, mas
acho que os dois maiores foram, primeiro quando seu filho mais velho resolveu
ir para São Paulo procurar emprego e por lá ficou durante algum tempo sem dar
notícias - não tínhamos naquele tempo, a facilidade de comunicação como hoje.
Imagine você, um filho lá longe, numa cidade grande, sem dinheiro, sem família,
procurando algo para fazer, uma mãe é capaz de dormir?...
Outro fato muito triste foi a morte de seu filho caçula, apenas três
meses após o falecimento do esposo: um rapaz sadio, precisa de repente ir para
o hospital, para uma consulta e volta morto. Um filho, cuja janela da sala dava
para a sua janela, por onde conversavam horas e horas, um conforto para ela,
principalmente depois que o esposo se foi - e aí, ele se vai também!
Imagine a dor de uma mãe...
E ela desistiu de viver; literalmente! Fechou-se em seu mundinho,
tecendo um casulo cinzento em volta de si, nada mais esperando da vida! Três
anos após, lá se foi ela e certamente houve festa no céu! E hoje, estão na
glória, curtindo um amor maior, no face-a-face com Aquele que sempre foi
a razão maior de sua existência.
(Celina - 13/03/2020)
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