252 - MAL INEVITÁVEL
(Continuando com as
crônicas publicadas no Jornal "Voz de Diamantina")
"A velhice dói. E como dói! Não, não é psicológico não! É dor física mesmo! Dói na pele, sabe? Sabe o que é sentir na pele? É o peso dos anos. A dor da velhice.
É a dor da velhice estampada na face, exposta a todos, em sulcos
profundos, que vão se formando, visíveis, indesejáveis, inevitáveis!
É a dor dos anos, do tempo que se vai, das insônias, das tristezas, das
desilusões, dos desenganos, das decepções, dos muitos invernos, dos tantos
verões, numa alternância de temperaturas, que enregelam, que sufocam, que
massacram a pele... É o outono da vida, porque a primavera (flores, colorido,
euforia...) esta já se foi, já ficou para trás!
É a velhice física, um mal inevitável! E a criatura humana vai se
desfazendo, vai ficando fisicamente feia, enrugada, mostrando a todos que já
viveu algum tempo, que alguns anos já se foram...
Porém, muito pior que a física, é a velhice mental. Esta, sim, é triste
de se ver! A velhice física, cronológica, não é degradante como a velhice
mental precoce. Esta é que realmente
conta: encontramos velhos aos quinze anos, como podemos encontrar jovens aos
oitenta, exibindo uma juventude exuberante, lúcida, eufórica, consciente, que
não se deixou abater, apesar das intempéries, apesar do bom ou mau tempo.
A velhice física é inevitável; ninguém foge a ela. E nem se deve
procurar escondê-la: ela indica simplesmente que tal ser humano é um vitorioso,
que traz em si uma série de vitórias, que outros não conseguiram conquistar. Os
fracos tombam nos campos de batalha. Só os fortes conseguem ir além; só aos
fortes, é dado o privilégio de continuar a lutar, de erguer a cabeça e seguir
adiante... e caminhar mais... muito mais...
Porém, a velhice mental não é inevitável. Podemos fugir a ela que não é
consequência de bom ou mau tempo. Muito pelo contrário: quanto mais experiência
de vida se tem, maior, e mais rica, e mais forte, e mais abrangente, e mais
madura se torna a nossa capacidade mental.
Ouvir muito, e ler muito, e viver
intensamente, estudando cada fato, procurando compreender as pessoas que nos
cercam, procurando sempre acrescentar algo às nossas experiências.
E sorrir!... Ah, como é bom sorrir!... Como nos faz bem, dar e receber
sorrisos, um sorriso franco, aberto, jovial, sincero! Sorrir com todos os
músculos da face
No dizer de Bilac: Envelhecer
rindo - como as árvores fortes envelhecem!"
(Sete Lagoas, 20/09/16)
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