quinta-feira, 1 de setembro de 2016

250 - ALGUNS DIAS SEM VOZ

Ainda relembrando as crônicas publicadas no Jornal “VOZ DE DIAMANTINA”. Outros tempos...


250 - ALGUNS DIAS SEM VOZ

"Quando o médico me disse que deveria ficar alguns dias sem falar, fiquei um tanto quanto receosa, mas não imaginei que fosse tão difícil assim.

E como é! Como é terrível precisar dizer algo ali, na hora, naquele momento, e não poder abrir a boca. E, se fazemos gestos, quantas vezes somos mal interpretados!

Dizem que  'em boca fechada não entra mosquito', mas não abri-la para emitir um único som, não é fácil!

E o pior é que as pessoas que não nos conhecem, quando veem que não falamos, julgam-nos surdos também, ou parcialmente. E começam a falar mais alto com a gente. E começam a se condoer da nossa situação...

Lá no Rosa Pinto, fui comprar um frango. E a moça me atendeu prontamente e foi muito gentil comigo. Mas,  uma outra freguesa que lá estava, comentou quando fui saindo: 'Ela não fala não? Coitada!' Tive vontade de agradecer-lhe a preocupação para comigo, mas eu... não podia!

Interessante foi lá no ABC: Perguntei a um  menino que lá estava trabalhando, o preço de três canetas (por escrito, é lógico!). E ele, coitado, com toda delicadeza daqueles que atendem bem aos que estão do outro lado do balcão, tomou a caneta da minha mão e escreveu o preço ali no meu papel. Acho que pensou que eu era surda também. (Obrigada, meu filho, você é muito gentil!)

Mas o pior foi no ‘Sacola Cheia’  quando uma pessoa me cumprimentou bastante eufórica, me chamando pelo nome e recebeu de mim apenas um aceno de mão... Que podia fazer, não é?

E assim, claro, com algumas dificuldades, venci esses dias. Espero não passar novamente por uma situação desta, pois não é fácil. E mais difícil ainda é dentro de casa onde pedidos, ordens, repreensões e até castigos, são dados por escrito. Arre! Que dificuldade!!!"
****

(Foi um período realmente difícil esse em que os médicos detectaram dois nódulos nas minhas cordas vocais e me puseram de repouso. E  o pior é que havíamos acabado de mudar para Diamantina, onde poucas pessoas me conheciam e ficaram sem saber que "muda" era aquela... Fiz o repouso, como aconselhado e voltei ao médico: graças a Deus, os dois haviam sumido! E assim terminou aquela agonia...)

(Sete Lagoas, 01/09/16)

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