Ainda relembrando as crônicas publicadas no Jornal “VOZ DE
DIAMANTINA”. Outros tempos...
250 - ALGUNS DIAS SEM VOZ
"Quando o médico me disse que deveria
ficar alguns dias sem falar, fiquei um tanto quanto receosa, mas não imaginei
que fosse tão difícil assim.
E como é! Como é terrível precisar dizer
algo ali, na hora, naquele momento, e não poder abrir a boca. E, se fazemos
gestos, quantas vezes somos mal interpretados!
Dizem que 'em boca fechada não entra mosquito', mas não
abri-la para emitir um único som, não é fácil!
E o pior é que as pessoas que não nos
conhecem, quando veem que não falamos, julgam-nos surdos também, ou
parcialmente. E começam a falar mais alto com a gente. E começam a se condoer
da nossa situação...
Lá no Rosa Pinto, fui comprar um frango. E
a moça me atendeu prontamente e foi muito gentil comigo. Mas, uma outra freguesa que lá estava,
comentou quando fui saindo: 'Ela não fala não? Coitada!' Tive vontade de
agradecer-lhe a preocupação para comigo, mas eu... não podia!
Interessante foi lá no ABC: Perguntei a um
menino que lá estava trabalhando, o preço de três canetas (por escrito, é
lógico!). E ele, coitado, com toda delicadeza daqueles que atendem bem aos que
estão do outro lado do balcão, tomou a caneta da minha mão e escreveu o preço
ali no meu papel. Acho que pensou que eu era surda também. (Obrigada, meu
filho, você é muito gentil!)
Mas o pior foi no ‘Sacola Cheia’ quando uma pessoa me cumprimentou bastante
eufórica, me chamando pelo nome e recebeu de mim apenas um aceno de mão... Que
podia fazer, não é?
E assim, claro, com algumas dificuldades,
venci esses dias. Espero não passar novamente por uma situação desta, pois não
é fácil. E mais difícil ainda é dentro de casa onde pedidos, ordens,
repreensões e até castigos, são dados por escrito. Arre! Que
dificuldade!!!"
****
(Foi um período realmente difícil esse em que os
médicos detectaram dois nódulos nas minhas cordas vocais e me puseram de repouso. E o pior é que havíamos acabado de mudar para
Diamantina, onde poucas pessoas me conheciam e ficaram sem saber que "muda" era
aquela... Fiz o repouso, como aconselhado e voltei ao médico: graças a Deus, os
dois haviam sumido! E assim terminou aquela agonia...)
(Sete Lagoas, 01/09/16)
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