domingo, 25 de setembro de 2016

255 - O TRABALHO

Mais uma crônica dos tempos de Diamantina:

 255 - O TRABALHO

Perguntaram-me por que a CRÔNICA DO DIA não tem saído.   É difícil, vocês sabem: a casa, a escola, a Faculdade... Com todos os espaços preenchidos, não tenho tido tempo para dar o meu recado. Os assuntos são muitos, mas o tempo é curto.

Alguém me disse que gostou especialmente daquela mensagem de que “televisão não é babá.” Realmente a nossa TV está cansando a mente e a vista de nossas crianças, ocupando em suas vidas um espaço que não estava  vazio. E não só as crianças: também os adolescentes e adultos perdem seu precioso tempo à frente de um aparelho de televisão! Pessoas sadias que poderiam estar trabalhando.

Já disse alguém: “Não coma quem não trabalha!” Realmente, deveria ser assim. Que bom se todos produzissem tudo aquilo de que são capazes! Temos as nossas crianças, os idosos, os doentes, de produção deficiente, dos quais não poderemos exigir muito. Mas uma pessoa normal, física e intelectualmente sadia, deveria dar o máximo de si para aumentar o nosso setor de produção. Por que trabalhar quatro horas por dia, se posso trabalhar oito? E se trabalho oito lá fora, por que não ocupar mais quatro em casa com uma atividade diferente? Quanto quintal vazio, quanta terra improdutiva, quanta coisa poderia ser feita. Quase não se vê mais uma horta bem cuidada, um terreno bem explorado...

O trabalho enobrece o homem e fortalece o físico e o espírito, fá-lo sentir-se mais útil, mais necessário; mais gente, mais feliz!

Gosto de ver pessoas que têm o tempo todo preenchido. Fico feliz por isto. Faz-me sentir que ainda existem pessoas que sabem aproveitar o tempo; um tempo que se vai... e que jamais voltará. Cada minuto vivido é um espaço que não se repetirá. Por isto, vamos aproveitá-lo.

Trabalhar, preencher o tempo com atividades sadias, é para mim,  tão necessário que, se me é dado ficar de folga, parece-me estar “sobrando”, faz-me sentir inútil.

Exatamente, no dia primeiro último, alguém me disse, gracejando: “Se eu encontrasse quem inventou o trabalho, juro que o mataria!” Ao que eu respondi: “Deveríamos dar-lhe flores!”
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(Continuo pensando desta forma!

(Sete Lagoas, 01/10/16)

254 - REVIVENDO BONS MOMENTOS...

Como disse anteriormente, estamos revendo algumas crônicas que foram publicadas em jornais de Diamantina, quando morávamos naquela mágica cidade - entre os anos oitenta e sete e noventa e dois:

254 - A FAMÍLIA

É quase meia noite. Sozinha aqui, sentada, aguardo o ônibus de uma hora para Belo Horizonte. O silêncio é completo. Apenas, de vez em quando, a musicazinha indesejável de um ou outro pernilongo, intrusos que teimam em dar continuidade à sua seresta.

Um carro sobe a Rua São Francisco com grande barulho. E... outra vez o silêncio! Todos dormem. Então, eu penso: realmente, o homem é um animal social; nasceu para viver em comunidade. Realmente, não dá pra viver sozinho! Como agora, na calada da noite, que silêncio pesado, que sensação de abandono, que medo!...

É certo: nascemos para vivermos em comunidade. E a comunidade mais importante é indiscutivelmente, a família; é a primeira; a última; é aquela que nos acompanha a vida toda. Infeliz daquele que, por motivos diversos, precisa viver longe de sua família. Coitado! Conviver com outros grupos sociais, fazer amigos, isto é ótimo! Mas nada como o aconchego gostoso de um lar bem constituído.

Amigos -  homens e mulheres - papais e mamães - vamos pensar bem nossas atitudes. Como se não bastassem as célebres palavras: "Amai-vos uns aos outros" - há ainda as que ouvimos aos pés do altar, em um dia muito importante de nossa vida. Portanto, vamos fazer de nosso lar um abrigo sagrado, um local de alegrias e prazeres para aqueles que vivem ao nosso lado. 

Principalmente - reflitamos - vamos criar os nossos filhos num ambiente sadio e gostoso de se viver; vamos usar como escudo, uma só palavra: Amor. 

Já está quase na hora. Vou chamar meu esposo para ir comigo à rodoviária. Lá fora tenho medo, muito medo!...

E eu fico pensando naqueles que não têm um lar!.... 

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(Lembro-me bem desse dia: precisava ir sozinha visitar meus pais, deixando para trás, esposo e filhos.  Morávamos bem perto da rodoviária e, como não podia dormir, enquanto esperava o tempo passar, registrava o acontecimento. Sempre gostei de fazer isto.  Coisas da vida...)

Sete Lagoas, 25/09/16
  

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

253 - MAIS UMA CRÔNICA DOS VELHOS TEMPOS...

253 - APENAS UMA...  SUGESTÃO!

       - Meu filho não sabe redigir.
       - Ele lê?
       - Lê o quê?
       ... Que pena! "Lê o quê?" - foi o que a mãe perguntou.
       Olho para ela um tanto quanto abatida, constrangida com tal situação.
    "Lê o quê?" Há tanta coisa boa que pode ser lida, tanto livro bom que deve ser colocado na mão das crianças para que elas leiam, para que ampliem seus conhecimentos. Leituras recreativas para as  suas horas de lazer...
       E aqui em Diamantina, temos tantas bibliotecas, com livros ótimos que podem ser lidos pelas nossas crianças...
      Se o seu filho não tem o hábito de ler, faça para ele uma ficha numa das nossas bibliotecas (a Municipal, por exemplo) e ele poderá entrar para o mundo maravilhoso da leitura. As moças lá estão sempre com um sorriso, muito gentis, para atender a todos, com muita presteza. 
        É adágio bem conhecido: "Quem não lê, mal fala, mal ouve, mal vê”.
        Vamos fazer com que nossos filhos adquiram o hábito da leitura e sua compreensão crescerá à medida que se aprofundam no mundo das boas obras; ser-lhes-á então muito mais fácil, falar, ouvir, escrever...
        Vá lá. Faça a ficha e a cada dia, seu filho poderá ter um livro novo nas mãos o qual lhe proporcionará momentos de prazer, enquanto lhe desenvolve o automatismo da leitura, a compreensão e o senso crítico. Tudo isto sem lhe custar um centavo.
         Não é uma boa ideia?! Vale a pena!


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(Sempre me preocupei muito com isto. Quando meus filhos nasceram, já era professora há algum tempo, a mesa vivia cheia de papéis,  revistas, livros, apostilas, desenhos; assinava pra eles o “Nosso Amiguinho” e outras revistas infantis; adquiria coleções diversas como a gente vê tantas por aí. Livros de literatura infantil podem ser bem baratinhos e, ao invés de dar outro tipo de presentes para as crianças, ofereçamos historinhas que vão  diverti-las, ao mesmo tempo que instruem e ajudam a resolver seus conflitos. Mas se o dinheiro está curto, podemos ler muito, também aqui em Sete Lagoas, frequentando a Biblioteca Pública. Sei de crianças que têm ficha lá e estão sempre trocando livros. E isto é muito bom!)

Sete Lagoas, 24 de setembro de 2016)  

252 - MAL INEVITÁVEL

252 - MAL INEVITÁVEL 
                                                                           (Continuando com as crônicas publicadas no Jornal "Voz de Diamantina")

"A velhice dói. E como dói! Não, não é psicológico não! É dor física mesmo! Dói na pele, sabe? Sabe o que é sentir na pele? É o peso dos anos. A dor da velhice.

É a dor da velhice estampada na face, exposta a todos, em sulcos profundos, que vão se formando, visíveis, indesejáveis, inevitáveis!

É a dor dos anos, do tempo que se vai, das insônias, das tristezas, das desilusões, dos desenganos, das decepções, dos muitos invernos, dos tantos verões, numa alternância de temperaturas, que enregelam, que sufocam, que massacram a pele... É o outono da vida, porque a primavera (flores, colorido, euforia...) esta já se foi, já ficou para trás!

É a velhice física, um mal inevitável! E a criatura humana vai se desfazendo, vai ficando fisicamente feia, enrugada, mostrando a todos que já viveu algum tempo, que alguns anos já se foram...

Porém, muito pior que a física, é a velhice mental. Esta, sim, é triste de se ver! A velhice física, cronológica, não é degradante como a velhice mental precoce.  Esta é que realmente conta: encontramos velhos aos quinze anos, como podemos encontrar jovens aos oitenta, exibindo uma juventude exuberante, lúcida, eufórica, consciente, que não se deixou abater, apesar das intempéries, apesar do bom ou mau tempo.

A velhice física é inevitável; ninguém foge a ela. E nem se deve procurar escondê-la: ela indica simplesmente que tal ser humano é um vitorioso, que traz em si uma série de vitórias, que outros não conseguiram conquistar. Os fracos tombam nos campos de batalha. Só os fortes conseguem ir além; só aos fortes, é dado o privilégio de continuar a lutar, de erguer a cabeça e seguir adiante... e caminhar mais... muito mais...

Porém, a velhice mental não é inevitável. Podemos fugir a ela que não é consequência de bom ou mau tempo. Muito pelo contrário: quanto mais experiência de vida se tem, maior, e mais rica, e mais forte, e mais abrangente, e mais madura se torna a nossa capacidade mental.

Ouvir muito, e ler muito, e viver intensamente, estudando cada fato, procurando compreender as pessoas que nos cercam, procurando sempre acrescentar algo às nossas experiências.

E sorrir!... Ah, como é bom sorrir!... Como nos faz bem, dar e receber sorrisos, um sorriso franco, aberto, jovial, sincero! Sorrir com todos os músculos da face

No dizer de Bilac: Envelhecer rindo - como as árvores fortes envelhecem!"

(Sete Lagoas, 20/09/16)

domingo, 4 de setembro de 2016

251 - NOVA SANTA



251 - NOVA SANTA

Hoje, dia quatro de setembro de dois mil e dezesseis, desde as cinco da manhã aqui estamos, acompanhando esta beleza de transmissão desta nossa querida Canção Nova: a Canonização de Madre Teresa de Calcutá! 

Que santidade, meu Deus! Os números, imensos, a gente vai encontrar em fontes seguras na internet, por diversos sites. O que ela fez, também está escrito por aí... Mas ver isto, ao vivo, direto do Vaticano, é maravilhoso! O Papa Francisco, na sua conhecida simplicidade, se dedicando a esse ato divino de santificação da Mãe dos Pobres, aquela que doou toda sua vida sem se poupar, fazendo de todos os momentos,  um ato de amor a Deus e aos irmãos. 

Uma multidão na Praça São Pedro; lá,  agora,  quase meio dia, sol a pino, final de um ato tão solene: a Missa de Canonização desta que o mundo inteiro já conhece pelas suas falas de amor, sempre com muita sabedoria, falas que se originaram daquela que ela ouviu a exatos setenta anos: "Tenho sede!”

Ela que é para todos nós, um ícone de caridade, um exemplo fiel de dedicação aos mais necessitados, ela que carregou ao colo, tantas crianças, dando-lhes acima de tudo, mais que o alimento material, o calor humano, o aconchego, o carinho, um afeto de mãe, uma palavra amiga, o sorriso dócil de quem acolhe com alegria!

Seremos nós, capazes de imitar a Santa nas nossas ações, assistindo ao próximo, como os muitos bons samaritanos anônimos, que pelo mundo afora se fazem presentes, atendendo aos apelos de Jesus crucificado?…

“Tenho sede!” – disse Jesus!  Quantos clamam silenciosos, numa angústia sem fim: Tenho sede:  Sede de amor, sede do calor humano, sede do carinho de familiares, sede do aconchego de um lar...

Que ela, a Nova Santa, lá do céu continue olhando pelo Brasil, como olhou pelos brasileiros,  Fernanda e Marcílio, em sua aflição. Agradeçamos a Deus por isto e pelas Missionárias da Caridade espalhadas pelo mundo inteiro, congregação criada pela Madre Teresa de Calcutá. Obrigada, meu Deus, por tantas bênçãos!!!

Aproveitemos este momento de santificação e digamos: “Santa Teresa de Calcutá, lá do Céu, olhai pela nossa nação, rogai a Deus pelos desempregados de nosso país que pedem socorro, olhai por nossas famílias que vivem períodos de penúria e extrema pobreza.”

Que Deus abençoe o trabalho dessas Missionárias incansáveis que, em cento e trinta e três países, espalhados por todo o mundo, continuam fazendo o que a fundadora idealizou e fez tão bem aqui na terra!
(Sete Lagoas, 04/09/16)

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

250 - ALGUNS DIAS SEM VOZ

Ainda relembrando as crônicas publicadas no Jornal “VOZ DE DIAMANTINA”. Outros tempos...


250 - ALGUNS DIAS SEM VOZ

"Quando o médico me disse que deveria ficar alguns dias sem falar, fiquei um tanto quanto receosa, mas não imaginei que fosse tão difícil assim.

E como é! Como é terrível precisar dizer algo ali, na hora, naquele momento, e não poder abrir a boca. E, se fazemos gestos, quantas vezes somos mal interpretados!

Dizem que  'em boca fechada não entra mosquito', mas não abri-la para emitir um único som, não é fácil!

E o pior é que as pessoas que não nos conhecem, quando veem que não falamos, julgam-nos surdos também, ou parcialmente. E começam a falar mais alto com a gente. E começam a se condoer da nossa situação...

Lá no Rosa Pinto, fui comprar um frango. E a moça me atendeu prontamente e foi muito gentil comigo. Mas,  uma outra freguesa que lá estava, comentou quando fui saindo: 'Ela não fala não? Coitada!' Tive vontade de agradecer-lhe a preocupação para comigo, mas eu... não podia!

Interessante foi lá no ABC: Perguntei a um  menino que lá estava trabalhando, o preço de três canetas (por escrito, é lógico!). E ele, coitado, com toda delicadeza daqueles que atendem bem aos que estão do outro lado do balcão, tomou a caneta da minha mão e escreveu o preço ali no meu papel. Acho que pensou que eu era surda também. (Obrigada, meu filho, você é muito gentil!)

Mas o pior foi no ‘Sacola Cheia’  quando uma pessoa me cumprimentou bastante eufórica, me chamando pelo nome e recebeu de mim apenas um aceno de mão... Que podia fazer, não é?

E assim, claro, com algumas dificuldades, venci esses dias. Espero não passar novamente por uma situação desta, pois não é fácil. E mais difícil ainda é dentro de casa onde pedidos, ordens, repreensões e até castigos, são dados por escrito. Arre! Que dificuldade!!!"
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(Foi um período realmente difícil esse em que os médicos detectaram dois nódulos nas minhas cordas vocais e me puseram de repouso. E  o pior é que havíamos acabado de mudar para Diamantina, onde poucas pessoas me conheciam e ficaram sem saber que "muda" era aquela... Fiz o repouso, como aconselhado e voltei ao médico: graças a Deus, os dois haviam sumido! E assim terminou aquela agonia...)

(Sete Lagoas, 01/09/16)