402 - Uma Carta
Prezado Tiradentes,
Permite-me chamar-te apenas
assim, como és mais conhecido. Chamar-te assim, pela alcunha de Tiradentes,
cuja melodia soava leve e grave, aos inocentes ouvidos dos alunos que
frequentavam as minhas aulas.
Permite-me chamar-te assim,
mais uma vez, relembrando os olhinhos que brilhavam, olhinhos de seres
inocentes, que eu percebia atentos, ao falar de Brasil, de liberdade, de
patriotismo, de Inconfidência Mineira. E eles, que mineiros eram, sentiam-se
parte de uma epopeia, sonhada e vislumbrada por ti, principalmente por ti, ó
inesquecível Tiradentes, em um tempo historicamente rico, que eles, pequeninos,
tentavam compreender.
Parece-me - relembrando agora
- que o meu entusiasmo, enquanto mestra estudiosa do assunto, parece-me que os envolvia
de tal forma, que se sentiam, também eles, um pouco protagonistas de uma
história, ocorrida em uma época que não viveram, mas que, certamente, gostariam
de ter vivido, na eufórica avidez de uma compreensão maior de Pátria, de
civismo, de bravura, de herói verdadeiro.
E todos queriam ler, queriam
declamar lindos poemas, queriam contar a outros, o que aprendiam! Sim, o
aprendizado sobre a tua história, não se resumia aos bancos de salas de aula.
Tanto pesquisávamos, tanto nos empolgávamos, que as conclusões a que chegamos
nos levaram a acreditar que poderíamos definir o fato, como um dos maiores
feitos do povo da nossa gloriosa Minas Gerais, terras nossas, que sustentam o
nosso caminhar. E por que em Minas - e por que de Minas eram, os meus alunos -
sentiam-se eles no direito de se apropriarem de tal fato histórico, passando a
fazerem parte do mesmo. E por isto se
vangloriavam de aqui terem nascido, porque era a tua terra, Tiradentes! E
sentiam-se imensamente gratos a Deus, por terem nascido aqui, e não, em outro
estado qualquer do nosso imenso Brasil.
Ah, Tiradentes, eles eram
assim! Vibravam com nossos estudos a respeito de tuas ideias, de tua história,
da história de teus companheiros inconfidentes! Eu sentia vibrar cada voz,
sentia brilhar cada olhar, ao considerarem, de um valor imenso, tudo o que
fizeste – ou tentaste fazer – pela nossa amada Pátria!
Eles eram assim! Mostravam-se
orgulhosos de ti, o nosso herói! O de Minas! O Mártir da Inconfidência! E
quantas vezes pude visualizar lágrimas, ao falar de traição, de prisão e morte
do nosso herói. Tanto se identificavam com o teu nome, que os demais envolvidos
ficavam nitidamente em segundo plano, e pouco se emocionavam com relação a eles,
ao tomarem conhecimento de poemas, fatos e falas de outros inconfidentes.
Porque o teu nome, era a
Inconfidência! O teu nome, todos
sabiam, da primeira à última letra, e o repetiam com orgulho.
Olha, Tiradentes, não sei em
que plano tu te encontras hoje, mas eu precisava dizer-te estas coisas para um
pedido. Talvez, daí onde te encontras agora, com um pouquinho de esforço a
mais, talvez possas, inclinando-te e aguçando os ouvidos, tomar conhecimento da
situação em que se encontra o nosso amado Brasil. E talvez possas interceder por
nós, que aqui ainda estamos, e energicamente, confidenciar aos nossos
governantes, uma forma melhor de fazer o povo brasileiro ufanar-se de seu país,
com melhores leis, maior fiscalização no
cumprimento das mesmas, e enérgica punição, se for o caso. Por favor, destemido
herói nacional, ajuda-nos.
Em nome dos pequeninos,
Celina
Sete
Lagoas, 21/09/19