100 - PAPAI, MAMÃE, JOÃO BOSCO...
A lista dos parentes, amigos e conhecidos é imensa e não dá para deixar aqui registrado, tudo o que presenciamos daquilo que realizaram durante o tempo, que a eles foi permitido aqui estar: fica apenas no pensamento de cada um e no sentimento que chamamos de saudade.
Sim, a saudade é grande. E por quê? Porque deixaram marcas profundas na nossa identidade, na formação da nossa personalidade, no nosso modo de ser, de pensar, de viver... Cada pessoa que passa por nós, leva um pouco de cada um e deixa um pouco de si. Eles se foram... Mas as marcas ficaram. E é este ponto de ligação que traz esta sensação de saudade que estamos sentindo agora.
Hoje me lembrei de um detalhe que sempre me vem à mente. Era meu aniversário; eu havia ido à Escola Normal, chegara, comera alguma coisa e tinha ido para a roça, trabalhar com meu pai e irmãos. De repente ele sai, vai lá pra casa; continuamos no trabalho - trabalhávamos duro mesmo! Daí a algum tempo, ele chega com um embrulhinho nas mãos e diz: "É pra você, no seu aniversário!"
Gente, meu pai, lavrador, criou onze filhos, como dizia sempre, com orgulho, "no cabo da enxada", pegou naquele dia seu parco dinheirinho, foi à venda - uma vendinha que havia ali perto - e procurou alguma coisa que pudesse me agradar,
Meu pai, a emoção daquele dia ressoa ainda em mim, em todo o meu ser, toma conta de todos os meus sentidos, me domina totalmente num sentimento de céu. Posso sentir ainda o suave perfume daquele "pó compacto" que devo ter usado por muito tempo em meu rosto. Obrigada, papai! A magia daquele objeto circular, azul, que guardava uma preciosidade rosa, de suave perfume, me acompanha pela vida afora...
É por isto que digo sempre: o que conta não é o valor do objeto, mas o carinho que reveste o ato de o entregar, a ternura no olhar, a alegria de quem oferece...
Meu pai deixou muitas lembranças boas para os onze filhos, netos, irmãos, sobrinhos, amigos... e para a sua companheira de tantos anos - minha mãe - que, literalmente, desistiu de viver, quando ele se foi (ainda mais que perdeu o filho de pouco mais de quarenta anos, apenas três meses depois do papai); e nos últimos três anos que por aqui ainda passou, somente saudade, com certeza, e pôde depois acompanhá-lo também para a eternidade.
Dia de Finados: não é lembrança de morte, mas de vida, de ressurreição. Lembra dias que foram passados aqui na terra e tempos que serão vividos na eternidade. Passar pela sensação de perda quando os nossos se vão, é muito dolorido, mas penso que para quem vai é a paz, vida nova, sem sofrimentos, sem dor. Quero pensar assim, lembrando-me dos sofrimentos finais do meu pai, minha mãe e nos últimos instantes do meu irmão, como nos contou nossa cunhada, que estava com ele no hospital.
Finados... sempre a lembrança da dor da perda, mas é preciso pensar diferente, senão a gente adoece, o corpo sofre, a alma padece de tristeza.
E pensar que um dia também iremos - não sabemos quando, nem como...
Vamos viver na alegria, fazendo o bem, praticando a caridade, marcando presença positiva no nosso convívio - para que também deixemos saudades, como eles, que já se foram.
Meu pai, minha mãe, meu irmão, padrinhos, tios, primos, amigos, conhecidos... peçam a Deus por nós que aqui ainda estamos, para que possamos também, através das boas ações, deixar muitas saudades, como vocês!